Quem nunca teve uma ideia para facilitar o dia-a-dia, no trabalho ou em casa? A situação certamente acontece com muitas pessoas, mas poucas acabam colocando as criações em prática. E menos pessoas ainda levam o projeto a sério o suficiente para transformá-lo em um produto.
Mas esse panorama pode estar mudando no Brasil, por um motivo inusitado: a crise financeira está fazendo empresas voltarem os olhos aos inventores que, por outro lado, estão cada vez mais criativos.
O agricultor Zeferino Mikulski, que divide uma propriedade com o pai e os irmãos em Braganey, no oeste do Estado, é um exemplo. Incomodado com o sistema de limpeza das colheitadeiras, cujas peneiras deixavam a colheita lenta e pouco eficiente, Mikulski bolou um conjunto que aumenta em até 30% a eficiência do trabalho.
A ideia surgiu após a compra de uma nova colheitadeira, há nove anos. “Ficamos insatisfeitos com a produção dela”, conta o agricultor. A partir daí, ele fez adaptações na máquina, até que obteve um bom resultado.
O agricultor promete que sua invenção aumenta o rendimento em 20% a 30% nas colheitas de soja, trigo ou milho. “Uma colheita que duraria 10 dias, pode durar sete”, calcula.
Aos poucos, a invenção foi se espalhando para propriedades vizinhas. “Já temos nove equipamentos montados em outras fazendas”, diz Mikulski, informando que, apesar do baixo custo de produção do produto – cerca de R$ 600 -, vende-o por R$ 5 mil a R$ 7 mil, incluída a instalação. “Vendo também o resultado. O retorno do investimento é muito rápido”, afirma.
Registro
Ao levar sua ideia a sério, Mikulski teve que dar um passo que poucos inventores independentes – os não ligados a empresas ou centros de pesquisa, por exemplo – ousam tentar: registrá-la no órgão oficial de patentes, o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).
O processo é motivo para muitas invenções acabarem no fundo das gavetas. Na intenção de ajudar essa categoria de professores Pardais, foi criada a Associação Nacional dos Inventores (ANI). “Todo brasileiro tem direito ao registro de patentes”, ressalta o presidente da entidade, Carlos Mazzei.
Segundo Mazzei, a crise financeira tem aberto portas aos inventores, já que as empresas estão cada vez mais preocupadas em produzir novidades. Ele diz, ainda, que os próprios inventores têm procurado a ANI com mais frequência.
“A procura dobrou no ano passado”, informa. O trabalho da ANI envolve o acompanhamento de todo o processo de registro da patente, bem como sua divulgação.
O processo de registro envolve, entre outros itens, a consulta à legislação para determinar se a invenção é patenteável, definir o tipo de patente que será feita e, principalmente, verificar se a ideia é inédita não só no Brasil, mas no mundo.
Nem só a ANI pode ajudar. O próprio Inpi tem profissionais especializados em sua sede, no Rio de Janeiro. Escritórios especializados também podem ser contratados.
Mikulski já passou por todo o processo de registro de seu equipamento para colheitadeiras, e há três anos vem pagando as anuidades do Inpi. Mesmo assim, ainda tem receio de ter a ideia roubada.
Desconfiado, evita divulgar imagens do sistema e faz com que seus compradores assinem um termo que dá a ele mais proteção. Agora, aguarda o interesse de alguma grande empresa em produzir em série seu invento. “Qualquer indústria de colheitadeiras pode se interessar”, cogita.