Crise exige que Estado tenha capacidade de investir, diz Lula

A crise econômica e a provável recessão que virá a reboque devem ser combatidas com o aumento dos investimentos públicos, disse nesta sexta-feira (7) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em Foz do Iguaçu, em congresso que reúne prefeitos e governadores do Mercosul. Para Lula, reclamar ou alimentar o pânico causado pelo colapso do sistema financeiro internacional não irá combater os prováveis efeitos da crise sobre a economia dos países emergentes.

“Nós, governantes, não podemos deixar de reconhecer a gravidade (da crise), mas não podemos também deixar de tomar atitudes e tentar ver o que existe de possibilidades, para que possamos completar nosso desenvolvimento”, falou o presidente.

“De vez em quando, sou questionado por pensadores econômicos, por adversários, que me acham excessivamente otimista, acham que não trato a crise com a gravidade devida. Fico imaginando, se eu fosse médico, essas pessoas estariam a exigir de mim, quando fosse visitar um paciente no hospital, que em vez de dizer para ele tomar o remédio e se cuidar, eu dissesse que ele ia morrer, que não tem salvação”, ironizou.

“Não adianta a gente ficar reclamando da crise ou participando do pânico que se cria. Pois quando o pânico, retratado 24 horas por dia pelos meios de comunicação, chega ao cidadão, a primeira coisa que acontece é ele ficar com medo de comprar, e isso é muito delicado. Pois, se ele não compra, a indústria não produz, o comércio não vende, a economia não gira, e aí a crise chegou até nós”, alertou.

Para Lula, a relação entre o Brasil e seus vizinhos de Mercosul “está longe de atingir a plenitude de seu potencial”. “É isso que essa crise vai exigir de nós. Para enfrentar uma crise de recessão, temos de apostar em mais capacidade de investimentos do Estado”, argumentou o presidente. “É a vez do Estado recuperar o prestígio abalado durante os anos em que fomos doutrinados pelo Consenso de Washington”, referindo-se à doutrina neoliberal imposta pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial aos países da América Latina durante as décadas de 1980 e 90.

“Durante anos, fomos doutrinados. Aqui no Brasil, chegou-se a criar um pensamento único. Durante muitos anos, quem falasse contra, não saía uma palavra no jornal, não dava entrevista na televisão, não dava entrevista em rádio”, lembrou Lula. “Pelo Consenso de Washington, o mercado saberia regular a economia, fazer política social, enquanto o Estado não sabia administrar. Cansei de ver delegações do FMI chegando ao Brasil para dizer se podíamos ou não construir uma estrada”, disse.

“O que aconteceu, com a crise, é que os que se auto-intitulavam senhores absolutos do mundo, foram pedir socorro ao Estado, ao mesmo Estado que não valia nada”, afirmou o presidente. Lula comparou os a gravidade e os efeitos das crises da Ásia, da Rússia e do México – que, durante a década de 1990, sob FHC e o Consenso de Washington, colocaram o Brasil de joelhos ante o FMI – e a atual. “As três crises (dos anos 90), juntas, envolveram 200 bilhões de dólares. Agora, falamos de uma crise de mais 4 trilhões de dólares. Ainda assim, o Brasil, de janeiro a setembro, criou 2 milhões e 47 mil novos empregos formais”, mostrou.

“(Por isso) Estou otimista, acho que a crise pode significar para nós uma oportunidade de nos prepararmos para um salto de qualidade e crescermos muito mais. No Brasil, tomamos uma decisão – nenhuma obra do governo federal – e isso é um apelo que faço aos companheiros governadores e prefeitos – tem que parar por conta da crise. Se parar, aí que a crise chega”, lembrou Lula. O brasileiro aproveitou para convocar o presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, a tomar medidas urgentes contra a crise. “Estou convencido de quem tem responsabilidade de resolver a crise é o presidente Obama”, disse.

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