Quem pensa que apenas os grandes investidores podem ser prejudicados com a alta do dólar, e que o Brasil sairá ileso dessa crise financeira, está muito enganado.

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O alto valor da moeda americana nos últimos dias – na última terça-feira chegou a valer R$ 2,31, fechando ontem a R$ 2,20 – pode afetar desde o cidadão mais pobre, que ganha salário mínimo, até os grandes empresários e industriais.

As conseqüências são diferentes para cada categoria, mas igualmente graves, pois os economistas dizem que o aumento de preço de alguns produtos é inevitável, o que gera a retração no consumo, que pode ser o ponto de partida até mesmo para o aumento no desemprego. Desta forma, as duas pontas são afetadas pela instabilidade do câmbio.

Com o alto valor do dólar, o cidadão comum poderá passar a pagar mais pelas massas em geral – o pãozinho de todos os dias é um exemplo, já que grande parte da farinha de trigo que se utiliza no País é importada – pelas frutas e verduras – os insumos e defensivos agrícolas utilizados nelas são importados – e até no cartão de crédito – quem viajou para fora do Brasil nos últimos dias e fez compras no cartão poderá se assustar quando chegar a conta.

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Já quem pretende viajar, é melhor esperar. Com os medicamentos, que têm matéria-prima importada, pode acontecer o a mesma coisa. Até mesmo produtos que não são importados tendem a ficar mais caros, pois a máquina que os produz pode ser importada.

Segundo o professor de Economia da UniFae, Gilmar Lourenço, o momento é preocupante e os empresários não vão ter outra alternativa, senão repassar para o consumidor as suas perdas. E assim, tudo vira uma bola de neve.

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“Quando o dólar aumenta, as empresas, principalmente as importadoras, têm dificuldade em pagar seus produtos. Com o aumento de custos, a tendência é repassá-los ao consumidor, o que gera uma inflação adicional. Por outro lado, com os valores dos produtos mais altos, a tendência é a retração do consumo. Com isso, as empresas voltam atrás, não repassam os valores, perdem rentabilidade e podem começar a demitir”, analisou Lourenço.

Estabilização

Embora os economistas estejam bastante pessimistas, o vice-presidente da Associação do Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, acredita que o valor do dólar deve estabilizar em R$ 2. Mas mesmo assim ele lembrou que o aumento da moeda americana com certeza vai deixar o Natal dos brasileiros mais caro.

“Apesar da diminuição das commodities, a taxa de câmbio influencia muito. Até os automóveis, ou mesmo um simples móvel, que utiliza compensados de MDF importados, podem aumentar de preço. As nossas tâmaras e damascos do Natal também. Não podemos esquecer que vivemos em um mundo globalizado, e a liquidez está presente”, diz ele.

Período de incertezas sobre o futuro

Alguns setores já estão sentindo os impactos da alta do dólar. Outros, porém, têm certeza que isso vai acontecer, embora ainda não saibam quando. No caso da panificação, os empresários não estão nada otimistas.

“Ainda não sabemos qual será o aumento no preço do pãozinho, mas se a crise continuar, as panificadoras vão ter que repassar o prejuízo, não tem jeito”, afirmou o presidente do Sindicato da Indústria da Panificação e Confeitaria do Estado do Paraná, Joaquim Gonçalves.

No setor de insumos e fertilizantes, o quadro desanimador também prevalece. O responsável pela empresa Produz – KGM, de Maringá, no noroeste do Paraná -empresa que revende defensivos agrícolas e fertilizantes, René Grando, disse que o impacto da alta do dólar já é evidente. “Nossos preços são diretamente ligados ao dólar. Para o consumidor, o aumento é negativo, pois com certeza ele vai pagar mais caro pelo alimento”, comenta.

Por outro lado, uma crise pode ter o seu lado positivo. Quem trabalha em empresas exportadoras ou pretende fazê-lo, por ,exemplo, pode ficar tranqüilo, pois a rentabilidade dos patrões vai aumentar e, conseqüentemente, as chances de novas contratações ou mesmo a garantia do emprego são realidade.

Porém, a professora de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Virene Matesco, diz que de um modo geral, a alta do dólar não é positiva para o Brasil. “Grandes oscilações não são boas, pois fazem com que o empresário fique apreensivo”, analisa.

Como tudo começou

A crise financeira que afetou o Brasil começou no ano passado em um pedaço do mercado hipotecário dos Estados Unidos. Como todos os aplicadores operam em dólar, inclusive nas hipotecas, eles começaram a registrar perdas, o que os fez retirar a moeda de outros mercados, incluindo o Brasil.

Muitas empresas aplicam em locais considerados seguros (os Estados Unidos, por exemplo), mas não contam que a crise vai ter início justamente neste país, que tem uma das economias mais sólidas.

Geralmente, a crise afeta primeiramente o setor financeiro, e somente depois, o setor da produção. Porém, no Brasil a crise atingiu diretamente o setor produtivo que depende do crédito internacional. “O governo brasileiro ficou meses negando a crise, mas em uma economia globalizada, não há como escapar”, disse Lourenço.