A insegurança do investidor tem aumentado na mesma proporção da crescente instabilidade que varre o mercado financeiro. A disparada do dólar e dos juros, principalmente no mercado futuro, e o mergulho da bolsa fazem o investidor conviver com a desconfortável sensação de que se correr o bicho pega, se ficar o bicho come. A dúvida está em saber se, no meio desse tiroteio, é melhor ficar onde está ou se é mais vantagem mudar de investimento. Especialmente porque o cenário de turbulência e estresse nos mercados deve persistir até as eleições de outubro e acena, dependendo do candidato vitorioso, com possível prorrogação até a posse do novo presidente, na virada do ano.

 Antes de tudo, se já está ancorado em alguma aplicação, será preciso saber onde. Os fundos DI e de renda fixa continuam amargando alguma perda por causa do sobe-e-desce dos mercados e também da atualização diária dos títulos ao que eles valem no mercado. Nos fundos DI, o ajuste é feito em relação ao valor dos títulos, basicamente as Letras Financeiras do Tesouro (LFTs). Embora a maioria dos fundos tenha substituído os papéis de longo prazo, mais expostos à desvalorização, pelos de prazo mais curto aproveitando os leilões de recompra e venda do Banco Central, as perdas persistem. Nos fundos de renda fixa, o ajuste da taxa é feito em relação aos juros projetados pelos contratos movimentados no mercado futuro da BM&F.
 Tanto num caso como noutro, a idéia é que os prejuízos cessem e o investidor passe a compensar as perdas quando houver uma recuperação dos títulos e estabilização dos juros.
 O sócio-gerente e estrategista-chefe da BankBoston Asset Management (BAM), Márcio Verri, comenta que os fundos de renda fixa estão ficando interessantes para aplicações com horizonte mínimo de um ano. Aí vale, portanto, a aposta do investidor, que precisa levar em conta o recolhimento da CPMF pela alíquota de 0 38% em qualquer mudança.
 O gerente de Open do banco Indusval, Antonio Rudyard, diz que, se acha que vai haver melhora de cenário, o investidor deverá permanecer no fundo DI, para tentar compensar perdas. Se a expectativa for de piora, o mais indicado seria a compra de um Certificado de Depósito Bancário (CDB) pós-fixado ao juro do CDI. ?Uma conversa com o gerente e com volume razoável de dinheiro é possível obter rendimento equivalente a 102%, 105% do juro do CDI.? Mas o investidor deve aplicar por um prazo de pelo menos 180 dias, para evitar repetições seguidas da CPMF.
 Ele comenta, ainda, que o investidor deve escolher o banco em que vai adquirir o CDB levando em conta o risco de crédito, a possibilidade de possível problema na hora de resgatar o título. Ainda que tanto o CDB quanto a caderneta contem com as reservas do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura saldos de até R$ 20 mil por CPF.
 O consultor da Sankt Gallen Investimentos, Gaspar Gasparian, diz que quem está em fundo DI deve conhecer o prazo dos títulos que formam a carteira. ?A recomendação é que o investidor procure aplicar em fundos com papéis de vencimentos curtos, para este ano; as cotas de fundos com títulos longos estão tendo muita oscilação.? Outra indicação para prazos mais elásticos são os CDBs que rendem a variação do Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) mais determinada taxa de juros, entre 10% e 12%, na média. ?O investidor pode diversificar entre os fundos DI com títulos curtos e os CDBs com IGP-M e, para diluir o risco, diversificar ainda as instituições financeiras.?
Ativos reais
 A crise nos mercados e nos fundos, que reflete também insegurança com o futuro da dívida pública, tem empurrado o investidor para os ativos reais, como dólar e ouro. Por enquanto o investidor tem virado as costas para a bolsa, outro refúgio em momentos de incerteza, mas a expectativa é que a bolsa volte a atrair compras. Senão por outros motivos, porque as ações estão bastante baratas.
 O sócio-diretor da Hedging-Griffo, Luís Stuhlberger, está entre os que apostam em ganho com ações, no médio e longo prazos. O apelo das ações independe do candidato que sair vitorioso na corrida à Presidência. Uma possível eleição de (José) Serra seria muito bom para as ações, que seriam também melhores que a renda fixa em caso de vitória do Lula, prevê.

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