Foto: Átila Alberti/O Estado |
Rebanho bovino permanece confinado, sem abates, e sem doença. continua após a publicidade |
Não foi nem uma semana, nem duas ou três. A indefinição sobre a suspeita de febre aftosa no Paraná dura exatamente um mês. E pior: não há data prevista para acabar. Desde o dia 21 de outubro, quando o governo do Paraná reuniu a imprensa para anunciar a suspeita do vírus em 19 animais de quatro localidades – Loanda, Amaporã, Grandes Rios e Maringá -, pecuaristas de carne de corte, do setor leiteiro, frigoríficos e laticínios vivem um verdadeiro pesadelo. Os prejuízos, alega a cadeia produtiva, não podem ser traduzidos apenas em cifras. A perda de contratos interestaduais e internacionais, milhares de litros de leite que foram jogados fora e animais que deixaram de ser abatidos também entram no cômputo dos prejuízos. Até agora, o Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) não encontrou o vírus da aftosa nas amostras, mas o Ministério da Agricultura considera o resultado inconclusivo.
?Para nós, essa novela começou no dia 9 (de outubro), quando o Mato Grosso do Sul anunciou que tinha foco de aftosa e mercados importantes, como a União Européia, se fecharam para o Paraná?, afirmou o assessor econômico do Sindicato da Indústria de Carnes e Derivados no Paraná (Sindicarnes-PR), Gustavo Fanaya. Desde então, segundo Fanaya, o Paraná está deixando de exportar R$ 900 mil por dia para o bloco econômico europeu, ou seja, R$ 36 milhões nesses período todo. Para o presidente do Sindicarnes-PR, Péricles Salazar, o prejuízo de toda a cadeia chega a R$ 100 milhões.
?A questão é que a perda de mercado não se restringe apenas a esses dias. Pode levar meses, anos para que o Paraná recupere mercados importantes, como pode ser também que nunca mais recupere?, alertou. Para Fanaya, com todo esse imbróglio envolvendo os resultados dos exames, a imagem do Paraná ficou arranhada no cenário internacional. ?Houve uma perda de confiança, e com isso não é só a empresa paranaense que perde, mas todo o Brasil. Até hoje não se sabe, por exemplo, a origem dos focos de aftosa no Mato Grosso do Sul?, criticou.
Para Fanaya, tantas confusões e indefinições – ?além da má vontade por parte do Ministério da Agricultura? – podem desvalorizar ainda mais a carne bovina brasileira. ?Para o mesmo corte, na Argentina o preço é 20% maior e na Austrália, 40%. O produto é o mesmo. O que desconta valor é a falta de sanidade do produto, a falta de investimentos do governo federal em capacitação, estrutura, laboratório. Tudo isso se reflete no preço da carne brasileira?, apontou, acrescentando que países mais exigentes como Japão e Estados Unidos não compram carne bovina do Brasil.
Desde que a crise da aftosa surgiu, o setor deixou de faturar cerca de 30% do que poderia ter faturado, segundo o economista. ?As indústrias deixaram de abater e o pecuarista deixou de vender. O boi ficou represado no pasto?, afirmou. Em um mês, de acordo com o economista, pelo menos 70 mil animais do Paraná deixaram de ser abatidos. ?Como se não bastasse o embargo por parte de alguns países, várias redes de supermercados deixaram de comprar do Paraná com receio de que os consumidores deixassem de comprar carne vermelha. A restrição foi muito mais psicológica?, lamentou.
Prejuízo de R$ 1,3 mi só na Castrolanda e Batávia
Se os prejuízos da suspeita de aftosa no Paraná são grandes entre pecuaristas de corte, para a pecuária leiteira a situação chegou a ficar praticamente insustentável. A expectativa, porém, é que tudo comece a melhorar a partir da resolução assinada pelo governo de São Paulo, permitindo a entrada de leite cru do Paraná – desde que respeitada a distância de 10 km das propriedades onde há animais suspeitos.
?Agora, só estamos buscando como proceder, já que os fiscais federais estão em greve?, afirmou o coordenador da produção leiteira da Castrolanda, Rogério Wolf. Conforme resolução de São Paulo, só é permitida a entrada de leite cru no estado desde que seja certificado pelo Serviço de Inspeção Federal (SIF) e se destine a um local também certificada pelo SIF. Segundo Wolf, a idéia é retomar o envio de leite cru para São Paulo já no início dessa semana.
As cooperativas Castrolanda e Batávia produzem juntas cerca de 600 mil litros de leite por dia. Até um mês atrás, 400 mil litros iam para São Paulo abastecer gigantes como a Danone e a Nestlé. Desde que surgiu a suspeita da doença no Estado, no entanto, o trânsito de leite ?in natura? ficou proibido.
?Parte do balanço mostra que o prejuízo já passa de R$ 1,3 milhão?, afirmou o coordenador da produção leiteira da Castrolanda, Rogério Wolf. Segundo ele, nesse cálculo estão embutidos todo o leite jogado fora – quase 1 milhão de litros -, e os custos de pasteurização, já que São Paulo passou a permitir a entrada de leite paranaense, desde que fosse industrializado.
Apesar de ter parte dos problemas amenizados, Rogério Wolf lembrou que a venda de animais – como bovinos e suínos reprodutores – continua proibida. ?Somos um pólo de genética?, lembrou Wolf. (LS)
Justiça exige laudo em cinco dias
Cinco dias. Esse foi o prazo dado pela Justiça Federal de Londrina para que os que governos federal e estadual apresentam o resultado final sobre a febre aftosa no Paraná. A decisão, do juiz federal substituto Cleber Otero, é uma resposta a uma ação impetrada pelos quatro pecuaristas que tiveram as propriedades interditadas por suspeita de focos da doença em Grandes Rios, Amaporã, Maringá e Loanda.
A alegação dos autores na ação é que, tanto o governo estadual como o federal, veicularam nacionalmente informações na imprensa sobre as suspeitas de febre aftosa nessas regiões. Além disso, garantiram que até o dia 25 de outubro os resultados dos exames feitos pela Laboratório Nacional Agropecuário (Lanagro) seriam divulgados, o que não aconteceu até hoje.
O governador em exercício, Orlando Pessuti, seguiu ontem para Ribeirão Preto para uma audiência com o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que participa da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow). Segundo a sua assessoria, Pessutti ainda não tinha conhecimento dessa decisão. O governador viajou acompanhado do presidente da Federação da Agricultura do Paraná, Ágide Meneguetti.