A onda de abertura de capital, fusões e incorporações no ensino superior privado brasileiro, que começou a ganhar força em 2007, deverá passar por um processo de consolidação neste ano. A crise financeira internacional, que também afeta o setor, é um dos motivos. Enquanto as grandes instituições que puxaram os negócios em 2008 aguardam o resultado das matrículas e das taxas de inadimplência para o segundo semestre, faculdades menores – com dívidas crescentes, pouco crédito na praça e queda nas matrículas – são colocadas à venda.
No primeiro trimestre de 2009, ocorreram três transações comerciais no setor – duas delas com entrada de capital estrangeiro. No mesmo período de 2008, foram 33 fusões e incorporações, segundo a consultoria KPMG. “Os grandes grupos, que movimentaram o mercado no ano passado, estão esperando e se consolidando, arrumando a casa para fazer novas investidas”, diz Marcos Boscolo, sócio responsável pelo setor educacional da KPMG. “Percebemos pela conversa com clientes e pessoas do setor que eles estão trabalhando para buscar novas opções de aquisições e algumas de fato vão acontecer no segundo semestre.”
O panorama atual, com participação de fundos de investimento e grupos estrangeiros, leva a uma concentração ainda maior do setor, que tem cerca de 4 milhões de estudantes. Estimativas apontam que em alguns anos os 20 maiores grupos educacionais serão responsáveis por 70% das matrículas. Em meio a essa consolidação em grandes grupos, a sobrevivência das pequenas instituições ainda é uma incógnita – e delas depende o ensino privado em muitas cidades pequenas do País.
Uma tentativa para abarcar instituições da área é o anúncio de uma linha de crédito criada pelo BNDES para socorrer as instituições – uma reivindicação liderada pelo sindicato das instituições privadas de São Paulo, Semesp. Um dos focos dos recursos são as instituições de pequeno e médio porte, com capacidade para 2 mil alunos. Porém, sua eficácia é polêmica. “Essas dificuldades não são conjunturais, pois não decorrem da crise mundial. São dificuldades estruturais, que resultam do excesso de vagas em relação à demanda do mercado”, diz o economista do Mackenzie Paulo Dutra Costantin.