Uma crise política prolongada no Norte da África e a manutenção do preço do petróleo acima de US$ 100 podem jogar a economia global mais uma vez em uma recessão. O alerta foi feito hoje (22) pelo diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Nobuo Tanaka, que deixou claro que a turbulência pode afetar a recuperação da economia mundial.
Os confrontos na Líbia, o primeiro produtor importante de petróleo a ter sua produção afetada pela revolução social que está se alastrando pelo Norte da África e pelo Oriente Médio, e o discurso desafiador do ditador Muamar Kadafi pressionaram o preço do petróleo, derrubaram as bolsas e jogaram para cima a cotação do dólar no Brasil.
O preço do petróleo retoma o patamar de 2008 e fechou hoje em US$ 106,46 (tipo Brent, em Londres). A Bovespa caiu 1,22%, a Bolsa de Nova York 1,44% e a de Milão, 1,06%. A Itália é um dos países mais expostos à crise na Líbia.
No Brasil, também pressionado pela turbulência nos países do Norte da África, o dólar teve alta de 0,30% e fechou o dia cotado a R$1,672. No mercado global, houve corrida por ativos tradicionais, como o ouro e o franco suíço. A prata atingiu seu maior nível em 34 anos.
A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) se apressou em tentar garantir ao mercado que a produção dos demais países seria aumentada para compensar os problemas na Líbia. Já a AIE disse que colocaria à disposição suas reservas estratégicas, em caso de necessidade.
Estagflação
O executivo-chefe da Pacific Investment Management Co. (Pimco), Mohamed el-Erian, afirmou em artigo publicado pelo Financial Times que “devemos nos preparar para um choque no Oriente Médio”. Segundo ele, a turbulência política no Oriente Médio e no Norte da África deverá ter um “efeito sistêmico” na economia global, provocando um “vento estagflacionário” no curto prazo – uma combinação de estagnação econômica com alta dos preços.
Para el-Erian, o desempenho relativamente fraco do dólar durante esse período de crise é “uma advertência” de que a moeda americana poderá perder seu status de refúgio seguro. Isso indica que as pessoas estão começando a se preocupar com a situação fiscal dos EUA, disse.
“Tomo isso como advertência de que não podemos partir da premissa de que manteremos a posição de principal moeda de reserva, como no passado”, disse El-Erian. Ele também afirmou que a alta dos preços do petróleo está reduzindo o poder de compra, enquanto os riscos geopolíticos elevados poderão ter impacto negativo nos investimentos em todo o planeta.
O executivo-chefe da Pimco disse ainda que os mercados globais terão de conviver com preços mais altos de petróleo “por algum tempo”.