O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse ontem que a crise de renda na agricultura é a maior dos últimos 30 anos. Diante deste cenário, o ministro afirmou estar mais preocupado com a crise agrícola do que com os efeitos da crise política, com a perspectiva de renúncia do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, nesta semana. ?A preocupação que eu tenho é com a crise agrícola, ela é anterior à crise política e é profunda demais?, afirmou.
Os efeitos da crise agrícola deverão contaminar a próxima safra, segundo o ministro. ?A renda rural despencou muito neste ano, os custos subiram, os preços caíram, o endividamento ficou muito alto e houve quebra da produção por causa da seca. Com isso, a renda caiu muito e há um claro desânimo por parte dos produtores quanto à próxima safra?, disse.
Os produtos mais afetados, de acordo com Rodrigues, são algodão, arroz e trigo, com reflexos também em soja e em milho.
A previsão é de que safra será menor no próximo ano, com redução da área plantada da ordem de 5%. ?Já se fala em padrão tecnológico muito menor porque a redução do uso de fertilizantes, defensivos e sementes será superior a 15%?, afirmou.
Rodrigues afirmou que houve um atraso muito grande nas definições sobre prorrogação de dívidas e com isso, o volume de recursos para o crédito de custeio da próxima safra foi adiado.
?Agora já se definiram todos os mecanismos de prorrogação e já se tem clareza sobre o volume que será prorrogado?, disse. Com os custos de produção mais baixos para o próximo ano, o ministro prevê um aumento da renda agrícola em 2006.
Para o ministro, os juros ainda estão muito altos, apesar do corte de 0,25 ponto percentual promovido pelo Banco Central na semana passada. ?A agricultura não agüenta pagar os juros que estão aí?, disse.
Rodada de Doha
Rodrigues disse que não está otimista em relação à reunião ministerial dos membros da OMC (Organização Mundial do Comércio) em dezembro, em Hong Kong. Segundo o ministro, a Rodada de Doha só interessa ao Brasil se o País obtiver acesso a novos mercados agrícolas.
A Rodada de Doha está paralisada há anos, com a discussão entre países industrializados e em desenvolvimento sobre subsídios e barreiras tarifárias para produtos agrícolas.
Segundo o ministro, o acesso a mercados é o ponto principal para o Brasil na rodada de negociações comerciais. ?Não é interessante para o Brasil aceitar nenhuma negociação se for pequenininha, neste caso é melhor ficar como está?, afirmou.
Na definição de Rodrigues, a concessão ideal é a que permite ?um horizonte de mercados se abrirem para a agricultura brasileira com vigor e não de maneira apenas superficial?.
O ministro afirmou que a reunião realizada na semana passada entre americanos e europeus para discutir a questão agrícola não teve avanços. ?O tempo está correndo sem sinais positivos na direção da negociação. Se ela for pífia, não interessa ao Brasil?, disse.
Rodrigues citou o setor de serviços, como o segmento em que o País poderia fazer um número maior de concessões. Ele citou como exemplo a abertura do mercado de resseguros, que já faz parte dos planos do governo.