Muitas novidades nos estandes, poucas pessoas visitando a feira. Enquanto expositores de braços cruzados olham o fraco movimento, mostram caras de pouco contentamento. Este é o cenário verificado em duas importantes feiras que aconteceram nesta semana na cidade de São Paulo, algo raro em um ambiente onde os negócios fechados superam a casa dos R$ 2 bilhões ao ano. O motivo é a crise na infra-estrutura aérea enfrentada pelos brasileiros desde setembro do ano passado, quando um Boeing da Gol chocou-se com um jato Legacy, da Embraer, matando 154 pessoas.
A própria dimensão do mercado paulista de feiras e convenções e sua representatividade em âmbito nacional atestam o risco que o setor corre hoje e explicam as alternativas que estão sendo buscadas para minimizar os efeitos da crise. Balanço da International Congress and Convention Association (ICCA) mostra que, em 2006, a capital paulista figurou na 18ª colocação em destino de turismo, à frente de cidades como Rio de Janeiro, Madri e Vancouver. Em todo o País, as feiras e convenções registraram no ano passado receita de R$ 3,2 bilhões, sendo que a capital paulista ficou com a fatia de R$ 2,6 bilhões. ?Nós somos o Estado que recebe a maior parte das feiras, 75% delas são realizadas aqui?, contabiliza o presidente da São Paulo Turismo (SP Turis), Caio de Carvalho, que foi ministro do Esporte e Turismo na gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso. A SP Turis é a empresa de promoção turística e de eventos da cidade de São Paulo.
Carvalho admite que há riscos de a crise da aviação civil trazer resultados negativos ao segmento. ?Obviamente vai haver uma queda e São Paulo vai ter, sim, registros de perda. Embora a maior perda seja a humana?, observa o presidente da SP Turis, referindo-se às tragédias da TAM e da Gol.
As constatações de perdas nas feiras de negócios são compactuadas pela presidente da Associação Brasileira dos Centros de Convenções e Feiras (Abraccef), Margareth Sobrinho Pizzatto. Segundo ela, a trajetória de queda vem sendo observada desde o início de 2007. ?Nós já tínhamos constatado uma diminuição de 20% no movimento de visitantes nas feiras desde o início do ano e essa situação está se agravando com a continuidade da crise aérea?, pontua.
Estimativas
O presidente da SP Turis também aponta estimativas que refletem os problemas verificados no transporte aéreo. Segundo ele, a cidade deve ter, em 2007, um recuo de 20% no número de visitantes e, como conseqüência, de 20% na taxa de ocupação hoteleira. Os resultados, dentro desta projeção, mostram possíveis prejuízos também na geração de negócios. ?É um cenário indesejável, que terá de ser trabalhado com competência e criatividade na busca de soluções no curto prazo?, pondera.
A movimentação para conter maiores perdas do setor já começou. No 3º Encontro São Paulo Meu Destino, que contou com a participação de representantes da rede hoteleira e das organizadoras das principais feiras do País, começou a esboçar planos de ação para enfrentar o problema. A meta é criar alternativas para um possível agravamento da situação. ?Estamos muito preocupados com a redistribuição da malha aérea e com o aumento da tarifa das passagens, pois a crise não será solucionada com a elevação dos preços. Neste sentido, um dos segmentos que será mais prejudicado é o de turismo de negócios?, lamenta a presidente da Abraccef.
Uma das primeiras medidas foi o lançamento pela SP Turis do manual "Destino São Paulo – Turismo de Negócios e de Incentivo", com 76 páginas e o objetivo de mostrar os espaços e a infra-estrutura de serviços disponível na cidade, bem como a vasta rede de atrações e entretenimento. Esse último item pretende apontar São Paulo não somente como um destino de eventos diferenciado, mas também como uma alternativa para viagens de incentivos junto aos funcionários das empresas.
