Criadores ameaçam com ação na Justiça

Os proprietários das seis fazendas decretadas como focos de febre aftosa no Paraná podem ir à Justiça contra a decisão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Hoje, eles se reúnem em Maringá para discutir quais medidas devem tomar. Até ontem, a maioria deles não tinha sido comunicada oficialmente sobre os focos da doença. Embora a declaração de novos casos não fosse uma novidade, a confirmação pelo Mapa causou muita indignação.

?Nós já tínhamos conhecimento de que a tendência do Mapa seria essa. Mesmo assim, recebemos a notícia com tristeza e lamentamos muito?, afirmou o coordenador do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Maringá (Cesumar), Raimundo Tostes. A fazenda-modelo do Cesumar tem 460 animais e, desde o dia 21 de outubro, tinha suspeita da doença. Segundo Tostes, 32 animais vieram do Leilão 10 Marcas, realizado em Londrina no início de outubro. Todo o rebanho, garantiu, está sadio e não apresenta qualquer sintoma da doença. ?Foi uma medida arbitrária, tirânica?, desabafou.

O coordenador do curso lembrou que não surgiu nenhum elemento novo capaz de comprovar a existência do vírus no rebanho. ?A decretação foi baseada nos mesmos fatos do dia 21 de outubro. Há inconsistência técnica para provar que há febre aftosa no Paraná?, declarou. O Cesumar chegou a sacrificar um dos animais suspeitos e a mandar as vísceras para o Laboratório Nacional de Agropecuária (Lanagro), no Pará, na tentativa de agilizar os exames. ?Fomos extremamente transparentes. Desde o início, os animais ficaram em uma unidade isolada, em observação, mas nenhum deles apresentou sintoma como mancar ou babar.? De acordo com Tostes, a posição oficial do Cesumar é de contestar a decisão do Mapa.

O advogado Ricardo Jorge Rocha Pereira, que representou a Fazenda Bonanza, do Mato Grosso do Sul, e a Fazenda Cachoeira na Justiça também deve participar da reunião hoje. Pereira já é advogado do Cesumar e da Fazenda Santa Izabel, em Grandes Rios. Ontem, ele afirmou que ainda não tinha conhecimento da nota técnica do Mapa na íntegra e por isso preferiu não falar a respeito.

Nenhum sintoma

O proprietário da Fazenda Flor do Café, em Bela Vista do Paraíso – também apontada como foco de febre aftosa – , Alexandre Turquino, disse que, depois de 120 dias em observação, todos os 81 animais passam bem, sem nenhum sinal da clínico da doença. A propriedade em Bela Vista do Paraíso recebeu 411 animais do Mato Grosso do Sul, antes de seguir para o Leilão 10 Marcas, em Londrina, no início de outubro.

?Tenho certeza: esse vírus é um vírus político, colocado por decreto pelo Ministério da Agricultura?, acusou. ?Não se sabe que vírus é esse do Paraná; ele não é contagioso e os animais só engordam?, ironizou.

Ao lado do pai José Moacir, Alexandre Turquino também é proprietário da Fazenda Bonanza, em Eldorado (MS), declarada como foco de febre aftosa pelo Mapa, mesmo sem o isolamento do vírus. De acordo com Alexandre, o pai sofreu pressão e até ameaça de morte para sacrificar o gado da Fazenda Bonanza, cerca de mil animais. ?Meu pai mora lá e a pressão foi muito grande. Só faltava a nossa fazenda para o gado ser sacrificado e tínhamos a liminar a nosso favor. Mesmo assim, acabamos autorizando o abate?, contou.

Sem aftosa há 50 anos

O pecuarista Jonas de Andrade Gois, dono da Fazenda Alto Alegre, em Loanda, não conseguia esconder sua tristeza quando soube que sua propriedade havia sido declarada como foco de febre aftosa. ?Há mais de cinqüenta anos não aparece aftosa aqui. Meu gado é tudo sadio?, disse, inconformado. Ao 86 anos de idade, o pecuarista conta que há pelo menos vinte a propriedade não recebe reses de fora. ?Os bois todos nasceram aqui, não compro animais de fora, só vendo. E vacino contra a aftosa há mais de cinqüenta anos?, garantiu. Gois tem um rebanho de aproximadamente 1,1 mil animais, em uma propriedade de quase 380 alqueires.

Mesmo sem ter recebido animais do Mato Grosso do Sul, a Fazenda Alto Alegre foi declarada como foco por ser vizinha à Fazenda São Paulo, também em Loanda. ?Isso tudo é política. É uma falta de respeito?, desabafou.

Os donos das outras fazendas declaradas como focos da aftosa – Fazenda Santa Izabel, em Grandes Rios; Fazenda São Paulo, em Loanda e Fazenda Pedra Preta, em Maringá – foram procurados, mas não foram localizados pela reportagem. Ao todo, as seis fazendas têm cerca de 4,5 mil animais. Na Fazenda Cachoeira, já decretada como foco de aftosa desde 6 de dezembro, existem outros 1.795 animais. 

Requião critica anúncio de novos focos no Estado

O governador Roberto Requião criticou ontem, durante a reunião do secretariado, a decisão do Ministério da Agricultura em anunciar mais seis focos de febre aftosa em propriedades localizadas no Paraná. ?Não há vírus no Paraná! Mas o ministério, de forma inusitada, resolve declarar zonas de aftosa no Paraná, partindo do princípio de que onde havia gado saído de Mato Grosso do Sul, potencialmente poderia haver um foco de febre aftosa, embora o vírus não tivesse sido identificado?, disse o governador durante a Escola de Governo, ontem pela manhã.

Requião ainda destacou que o vírus da doença não foi encontrado nos animais que vieram de Mato Grosso do Sul e nem naqueles que foram confinados nas propriedades em companhia dos provenientes do Estado vizinho.

?Agora, baseado no mesmo princípio, depois de terem decretado a existência de febre aftosa na Fazenda Cachoeira, o governo federal resolve declarar mais seis zonas de febre aftosa, sem constatação de vírus?, afirmou.

O governador criticou a situação, comparando o ocorrido no Paraná com o verificado no Estado de São Paulo. ?Nós recebemos 229 animais de Mato Grosso do Sul, mas São Paulo tem uma fronteira muito maior e, sem a menor sombra de dúvida, eu posso dizer que, se aqui tivemos 229 animais de Mato Grosso, São Paulo, no mínimo, teria 10 vezes isso.?

Para concluir, Requião destacou que a luta contra a febre aftosa no Paraná envolveu mais de 300 pessoas da Secretaria da Agricultura, com o reforço de 100 técnicos e veterinários contratados emergencialmente. Segundo ele, somado a centenas de automóveis que a secretaria já tem, o governo do Estado comprou mais 100 novos veículos, especialmente para a tarefa. ?Então, o Paraná está sendo penalizado apesar de ser o único Estado que se empenhou na defesa sanitária animal. O Paraná não tem aftosa. Ela está na cabeça dos responsáveis pelo Ministério da Agricultura?, concluiu. (AEN)

Governo argentino já eliminou quatro mil cabeças de gado

Buenos Aires (AE) – As autoridades sanitárias argentinas anunciaram que, ao longo da última semana, eliminaram 4.044 cabeças de gado contaminadas – ou com grande potencial de estarem infectadas -pela febre aftosa. Os quatro milhares de animais foram sacrificados na província de Corrientes, onde foi descoberto há 16 dias um foco de aftosa. Por causa do ressurgimento da doença no país, a Argentina perdeu de forma parcial ou total 12 mercados no exterior, entre eles o Brasil.

Do total de animais abatidos, 3.600 pertenciam à fazenda San Juan, no município de San Luis del Palmar, próxima à capital provincial, a 25 quilômetros da fronteira paraguaia e a 200 quilômetros da divisa com o Brasil.

A fazenda pertence a José Romero Feris, um ex-caudilho da província de Corrientes, acusado de ter protagonizado dezenas de escabrosos casos de corrupção. Os animais restantes pertenciam a fazendas vizinhas.

O ressurgimento da aftosa na Argentina fechou as portas dos mercados brasileiro, paraguaio, uruguaio, chileno e peruano entre outros. No caso da Rússia e da União Européia, o segundo e o primeiro importador de carne argentina (respondendo por 36% e 38% das compras de carne deste país), o embargo foi parcial, somente atingindo a carne proveniente de Corrientes.

Graças a estas restrições parciais, o prejuízo aos produtores argentinos seria menor que o inicialmente calculado. Lideranças rurais sustentavam, na semana passada, que o país perderia até US$ 700 milhões em exportações. Mas, as últimas estimativas indicam que as perdas seriam, neste ano, de US$ 237 milhões, o equivalente a 19% das exportações de carne de 2005.

Exposição de Londrina

No Paraná, a exposição de Londrina está com a sua data mantida 6 a 16 de abril – e não terá nenhum empecilho oficial para a sua realização.

?Reiteramos que a nossa feira será no início de abril e que não há nenhuma restrição pelas autoridades oficiais para a sua realização?, afirmou ontem Edson Neme Ruiz, presidente da Sociedade Rural do Paraná.

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