Criação de búfalos diminuiu 70% no Paraná

A criação de búfalos no Paraná já teve seus dias de glória. Porém, de dez anos para cá a quantidade de criadores diminuiu em até 70%. Para se ter uma ideia, no momento, o rebanho bubalino equivale a apenas cerca de 2% do rebanho bovino no Estado.

Há alguns fatores que levam a esse baixo desempenho. Um deles é que nos últimos anos algumas organizações não-governamentais (ONGs) ambientais passaram a procurar grandes áreas para captura de carbono, justamente o perfil das áreas de criação de búfalo no litoral do Paraná.

Resultado: muitos, ou praticamente todos os rebanhos foram se acabando. Na época, a região era a principal de criação era o litoral do Paraná, sendo que Antonina já chegou a abrigar o maior rebanho do Estado.

Outro fator que levou (e continua levando) aos desestímulo dos criadores de búfalo é o preço da carne. Como explica um dos representantes da Associação Paranaense de Criadores de Búfalo, Ugo Rodacki, além da questão da diminuição pressionada pelo mercado, ainda há a desvalorização.

Segundo ele, frigoríficos e varejistas vendem a carne de búfalo com valor de 5% a 10% menor do que a de boi. “A carne de búfalo é mais saudável do que a carne bovina, pois tem menos colesterol. Porém, os frigoríficos pagam o mesmo valor pelas duas”, reclama Rodacki. Segundo ele, ainda tem outro grande problema: além de pagarem o mesmo preço, os frigoríficos e varejistas vendem carne de boi como se fosse de búfalo.

“Isso desestimula o criador, pois ele produz uma carne melhor, mas perde. Então ele se sente injustiçado”, comenta Rodacki, que também é criador (um dos remanescentes do litoral do Paraná, região que já esteve em alta no setor).

Esse problema (de “vender gato por lebre”) é confirmado até pela Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab). Adélio Borges, do Departamento de Economia Rural da Seab, afirma que trata-se de uma grande contradição: além da carne de búfalo ser mais saudável (e que por isso deveria ser vendida até por um preço mais alto), ainda há o custo de produção que é baixo, segundo Borges.

“O problema no Paraná é que há uma política tacanha dos frigoríficos”, comenta. A arroba do boi, hoje, custa cerca de R$ 95 no Paraná, e a da vaca, R$ 88. “O frigorífico vai comprar a carne de búfalo por no máximo o preço da vaca”, diz Borges.

Sem respostas

A reportagem de O Estado procurou frigoríficos e os principais varejistas de carne para tentar conversar sobre as dificuldades, as vantagens e até sobre a venda irregular, mas não obteve retorno de nenhum deles.

Já o Ministério da Agricultura informou que nunca recebeu denúncias sobre a possível “venda de gato por lebre”, ou seja, da carne de boi pela de búfalo. O ministério informou apenas que as carnes embaladas vendidas no varejo devem trazer um selo de inspeção federal, e que o consumidor deve ficar atento a isso.

Esse selo atesta as condições corretas de abate e que todas as etapas da produção foram desenvolvidas corretamente. Há também selos estaduais e municipais, no caso de carnes que não são exportadas.

O ministério informou também que, no caso de carnes que não são embaladas, o açougue geralmente deve informar o prazo de validade e o número do selo de inspeção. Para finalizar, o ministério disse que se o consumidor se sentir prejudicado deve denunciar.

Carne, leite e queijo

De acordo com a Associação Paranaense dos Criadores de Búfalos, a criação deste animal é mais simples do que a de boi, pois ele é dócil e ganha peso com facilidade (n,o pasto, no máximo em 30 meses atinge o tamanho para abate).

Em função do baixo preço da carne, os criadores hoje ganham mais com a venda de queijo para grandes restaurantes, a famosa muzzarela de búfala. “Neste caso, o que se produz se vende”, afirma Ugo.

Para abastecer Curitiba é preciso recorrer aos criadores de São Paulo também, além do Rio Grande do Sul e o Norte do País, onde se concentram as grandes criações. O estado do Pará é hoje um dos grandes criadores de búfalos.

Já em relação ao leite, o mercado ainda não é tão promissor no Brasil. “Se fôssemos vender o leite teríamos que cobrar o dobro do preço. Sem falar que as pessoas talvez não se adaptem tanto, pois ele é bem diferente do leite de vaca”, afirma Ugo.

Arquivo
Município de Antonina, no litoral, tinha um dos maiores rebanhos de todo o Estado, mas produtores foram diminuindo a cada ano.
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