Brasília
– A turbulência que tomou conta dos mercados nos últimos meses vai restringir o crescimento da economia este ano. O governo, que projetava um aumento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2% neste ano, já admite algo próximo de 1,5%. “Tudo depende da profundidade e da duração da crise”, disse ontem o secretário-adjunto de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Roberto Iglesias. “Se chegarmos às eleições em condições normais, haverá crescimento.” Além de ser pequeno, o crescimento do PIB só acontecerá porque a base de comparação é ruim.A produção industrial caiu 0,07% na comparação entre o primeiro semestre de 2002 com igual período de 2001. “Foi praticamente um empate de zero a zero”, disse Iglesias. Para o segundo semestre do ano, espera-se que haja crescimento porque qualquer desempenho, por mais modesto que seja, parecerá bom se comparado ao final de 2001, quando a economia amargava os efeitos do racionamento de energia elétrica, da crise argentina e dos atentados terroristas aos Estados Unidos.
Freio
A crise também afetou as decisões de novos investimentos. Por um lado, os empresários estão esperando um quadro mais claro sobre a política econômica do novo governo para voltar a investir. Por outro, a turbulência fez subir os juros de longo prazo.
Hoje, o juro básico para financiamentos a longo prazo está em 26%, quando no início do ano estava próximo a 18%. Essa taxa é que dita os juros cobrados para o crédito ao consumidor em produtos de valor mais elevado, como automóveis.
Os números coletados pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda mostram que a economia havia iniciado o ano com um bom impulso, e no período de janeiro a março o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,7% na comparação com o último trimestre de 2001. “Se continuasse nesse ritmo, chegaríamos a 8% neste ano”, disse Iglesias. No entanto, a partir de março o nível de atividade desacelerou para 1,3%.
A indústria, particularmente a de São Paulo, é que tem apresentado pior desempenho. Nas contas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que acompanha a atividade industrial em todo o País, o número de horas trabalhadas na produção vem a taxas de crescimento positivas desde o final do ano passado.
Do quarto trimestre de 2001 para o primeiro trimestre de 2001, o aumento medido pela CNI foi de 0,1%; do primeiro para o segundo trimestre de 2002 o crescimento foi de 1,6% e, do segundo para o terceiro trimestre o aumento foi de 0,6%, indicando uma perda de fôlego, mas ainda assim mantendo uma taxa positiva.
Renda
Exceto pela indústria paulista e pelo setor automotivo, os demais segmentos da economia têm apresentado um desempenho positivo o suficiente para impulsionar a renda. A massa de salários calculada pelo Instituto Brasileiro e Geografia e Estatística (IBGE) cresceu 3,4% no primeiro trimestre e 1,8% no segundo trimestre deste ano, elevando o nível da renda.
A leve melhora nas perspectivas fez com que pessoas que estavam fora do mercado de trabalho passassem a procurar emprego. Embora o número de vagas tivesse continuado o mesmo, o número de pessoas à busca de uma colocação passou para 7,2% no segundo trimestre, contra 6,8% no primeiro trimestre. A renda dos brasileiros também foi engordada pelo aumento do salário mínimo, que fez com que os aposentados e pensionistas tivessem um aumento de 8,1% com relação ao ano passado.
O comércio beneficiou-se do aumento da renda. As vendas captadas pela Federação do Comércio de São Paulo cresceram 4,6% no primeiro trimestre, 2,3% no segundo e 0,6% no terceiro. Outro indicador de melhoria na renda é o consumo de material de construção, que aumentou 5,4% no segundo trimestre de 2002.