Crescimento da América Latina não apaga mancha social deixada

Há duas décadas a América Latina não crescia tanto quanto no ano passado (5,5%). Essa recuperação, porém, não foi suficiente para apagar ?a profunda mancha na área social deixada pela meia década de baixo crescimento antes de 2004?, diz o ?Informe Anual 2004? do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que será divulgado hoje em Okinawa, Japão, na reunião anual do organismo.

?Os índices de desemprego cederam muito pouco e na maioria dos países persiste um ambiente de desencanto com as políticas econômicas vigentes e com os seus resultados sociais?, revela um trecho do documento. ?O número de pobres praticamente não baixou do seu pico recente, e a incidência de pobreza extrema continua sendo muito elevada nos países com renda ?per capita? mais baixa?, conclui a avaliação.

Por isso mesmo o BID pretende intensificar uma mudança de política que fora timidamente iniciada no ano passado: a de gerar instrumentos mais flexíveis de financiamento que facilitem a obtenção de empréstimos mas, ao mesmo tempo, condicionando a sua liberação à obtenção de resultados concretos de desenvolvimento econômico e social dos países.

Os desembolsos serão feitos gradualmente, à medida que surgirem os sinais do progresso: ?É o que eu chamo de uma mudança qualitativa. O programa Bolsa Família, do Brasil, é um exemplo disso. O BID está procurando se aproximar cada dia mais das necessidades dos governos. Por isso vamos também tornar mais flexíveis as contrapartidas locais. Mas queremos ver resultados concretos, principalmente na área social, para ir soltando o dinheiro?, disse o presidente do BID, Enrique Iglesias, ao antecipar cópias do informe dias atrás em Washington.

Segundo ele, o combate à pobreza depende basicamente de agendas domésticas. Trata-se, como ressaltou, de uma responsabilidade interna. A do BID seria a de fornecer os recursos necessários. A dos países ricos seria a de reduzir as barreiras existentes aos produtos da América Latina: ?Mas é preciso, sobretudo, que cada país faça o seu próprio esforço?, disse Iglesias.

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