Com o forte crescimento do comércio bilateral com a China nos últimos anos, o uso do renminbi, ou yuan como a moeda chinesa também é conhecida, vem ganhando cada vez mais espaço nos negócios entre empresários brasileiros e chineses, o que tem estimulado instituições financeiras a criarem produtos para atender a maior demanda por renminbi.

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O banco HSBC, que já tem a licença bancária dada pelo governo chinês, tem registrado uma demanda crescente de bancos brasileiros para abrir contas em renminbi ou fazer outro tipo de acordo com a subsidiária do HSBC na China. O objetivo dos bancos brasileiros é ter acesso de alguma forma ao sistema de pagamentos e de liquidações chinês para viabilizar as necessidades de empresas no Brasil que precisam fazer pagamentos ou honrar obrigações em renminbi com clientes ou fornecedores chineses.

“O exportador chinês tem preferido cada vez mais fechar os negócios ou fazer acordo comercial com as empresas brasileiras em renminbi ao invés do dólar, que é ainda a moeda mais usada hoje em dia, por estar mais confortável em fazer as transações na moeda à qual todos os seus custos estão atrelados”, explicou o superintendente-executivo de multinacionais do HSBC, Leandro Borges.

“No futuro próximo, essa demanda por renminbi será muito mais forte do que é hoje e a tendência das empresas chinesas é de que elas exportem e transacionem bem mais em renminbi”, explicou o executivo. Por isso que os bancos brasileiros que não tenham acesso ao sistema de pagamentos e liquidações da China precisam abrir uma conta ou fazer algum acordo com outro banco que já tenha esse acesso para atender os seus clientes brasileiros. Segundo dados do HSBC, a conexão “south to south”, ou seja, os negócios entre países emergentes, incluindo operações como financiamento ao comércio exterior, já representam 17% das receitas da divisão de multinacionais da área de global banking do HSBC. A meta é que essa participação suba para 25% do total em 2012, impulsionada, sobretudo, pelos negócios entre Brasil e China.

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Líder do mercado de crédito às exportações, com fatia de 35%, o Banco do Brasil vem registrando um forte aumento nas operações de financiamento às exportações brasileiras para a China, acompanhando o ritmo de crescimento das vendas de empresas brasileiras para o mercado chinês, segundo o diretor de negócios internacionais do BB, Admilson Monteiro Garcia. As operações de financiamento às exportações para a China, grande parte por meio de contratos como Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamento sobre Cambiais Entregues (ACE), já representam cerca de 30% do total de financiamentos dessa área. Aliás, o volume de ACC e ACE que o banco fechará neste ano, estimado em US$ 18 bilhões, será recorde histórico. No acumulado de janeiro a novembro, o valor dessas operações já tinha crescido 42% ante igual período de 2010 – e esse aumento foi de 50% apenas para os ACC e ACE tendo a China como destino.

Diante desse crescente comércio entre Brasil e China, o BB passou a fechar contratos de ACC denominados na moeda chinesa desde 15 de setembro deste ano, embora a maioria desses contratos ainda sejam fechados em dólar. “A ideia é dar ao exportador brasileiro a facilidade em contratar os recursos na própria moeda chinesa, evitando risco de possível perda por conta da variação cambial”, explicou Garcia. “Entendemos que esse produto, isto é, os contratos de ACC e ACE em renminbi, vai fortalecer ainda mais a corrente comercial entre dois países, pois, via de regra, o exportador brasileiro para China busca um hedge cambial qualquer para se proteger de uma eventual variação forte das cotações”.

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De janeiro a outubro deste ano, as exportações para a China, o maior parceiro comercial individual do Brasil, cresceram 43% para US$ 37,1 bilhões, enquanto as importações de produtos chineses aumentaram quase 30% para US$ 27 bilhões em comparação com os primeiros dez meses de 2010.

Na opinião do presidente da Associação Brasileira de Empresas de Comércio Exterior (Abece), Ivan Ramalho, o desempenho impressionante do comércio bilateral com a China, inclusive com sólido crescimento do saldo comercial para US$ 10 bilhões de janeiro a outubro a favor dos brasileiros, deverá se manter nos próximos anos. “Apesar de algumas análises sobre o arrefecimento do crescimento da economia chinesa, tenho absoluta convicção de que a China vai continuar sendo o maior parceiro comercial do Brasil”, afirmou Ramalho. “Mas ao contrário das economias ocidentais e desenvolvidas, a economia da China vai continuar crescendo”. O desafio do Brasil, segundo ele, é diversificar sua pauta de exportação para a segunda maior economia mundial, hoje concentrada em quatro commodities: minério de ferro, petróleo, soja e açúcar.