O baixo volume de chuva nos meses de janeiro e fevereiro fizeram bancos e consultorias refazerem – para cima – as previsões de racionamento de energia elétrica neste ano. Diante de um janeiro que teve a pior hidrologia dos últimos 84 anos e de um começo de fevereiro com a terceira pior marca da história, o risco traçado pelo mercado chegou a 75%. Especialistas afirmam, no entanto, que independentemente da nomenclatura de racionamento ou racionalização, há necessidade imediata de reduzir o consumo.
“Hoje, se analisarmos os dados do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e da Climatempo, a necessidade de economizar energia seria de 10%”, afirma o analista do banco JP Morgan, Marcos Severine. Ele alerta que não adianta o País conseguir sobreviver ao período seco sem cortar energia e chegar ao fim do ano com os reservatórios na casa de 15%. Isso significaria começar 2016 novamente sob risco de racionamento.
Até segunda-feira, 9, o nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste – que representam 70% da capacidade de armazenagem do País – estava em 17,4%. Considerando o comportamento das represas nos últimos dois anos, que caiu 22 pontos porcentuais entre os meses de abril e novembro de cada ano, e o cálculo do ministro de Minas e Energia, Eduardo Braga, de que o sistema não pode funcionar abaixo de 10%, o País teria de dobrar o atual volume de água para 35%.
Pelos cálculos do Itaú BBA, com base na previsão de chuva do ONS para os próximos meses, os reservatórios do Sudeste chegariam a um nível preocupante de 21% ao final de abril e de 2% até o fim de novembro, se nada for feito para conter o consumo. No relatório intitulado “Racionamento ou Racionalização – Quem vai pagar a conta”, os analistas do banco elevaram a estimativa de risco de racionamento de 63% para 75% num período de uma semana.
De acordo com o documento divulgado aos clientes, o banco afirma que as previsões foram refeitas depois que o ONS revisou o volume de chuva para fevereiro. “A questão agora é saber se o governo vai dar o passo difícil de implementar oficialmente um racionamento de energia ou tentar uma racionalização da demanda.”
Nas últimas semanas, o governo tem anunciado medidas para elevar a oferta de energia, como o incentivo às empresas para o uso de geradores em horário de pico e à geração de energia feitas pelos próprios consumidores em suas residências, como os painéis solares. Além disso, na quinta-feira, 12, o governo deverá se reunir para fazer uma análise da situação do setor e pode decidir por uma campanha para popularizar a bandeira tarifária – que cobra R$ 3 a cada 100 kWh consumido.
“Como haverá um aumento tarifário muito grande, você pode pedir para os consumidores economizarem energia. Tem boas chances de isso dar certo”, afirma o sócio da PSR Consultoria, Mario Veiga, um dos principais especialistas no setor. Além disso, diz ele, as medidas para aumentar a oferta, como importação de energia da Argentina, operação da térmica de Uruguaiana e incentivo para shoppings ligarem seus geradores, podem ajudar.
Apesar disso, nas últimas semanas, o risco de um corte superior a 4% (em 1.200 cenários de afluências) calculado pela consultoria aumentou de 50% para 60% e agora para 70%. Nos 400 piores cenários, dentro do universo de 1.200, o risco de um corte superior a 4% é de 100%.
Para a agência de classificação de risco Standard & Poor’s, a possibilidade de um racionamento no Brasil este ano “aumentará significativamente” caso não chova em fevereiro e março o suficiente para dobrar o atual nível dos reservatórios. O diretor da S&P, Marcelo Schwarz, avalia que o governo vai tentar de tudo para evitar um racionamento, com o objetivo de não comprometer mais ainda a atividade econômica. Colaborou Altamiro Silva Júnior. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.