Se depender dos aliados e das centrais sindicais, a presidente Dilma Rousseff será obrigada a vetar o valor do salário mínimo a ser aprovado pelo Congresso. Somados à oposição, os partidos da base e as centrais sindicais resistem a aprovar o mínimo de R$ 545, conforme defende a presidente, e ameaçam aprovar no Congresso um valor superior. Medida provisória assinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estipulou em R$ 540 o salário mínimo para este ano. Dilma admite aumentar, no máximo, em R$ 5 o valor proposto pelo governo anterior.
“Esses R$ 5 a mais não dão para tomar duas cachaças”, reclamou hoje o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. “Vamos insistir no mínimo de R$ 580. Pode até ser que não consigamos aprovar esse valor, agora também não vai ser aprovado os R$ 545”, desafiou o sindicalista. Ele apresentou emenda à medida provisória para elevar o mínimo para R$ 580.
Futuro líder do PT na Câmara, o deputado Paulo Teixeira (SP) é outro que antevê dificuldades na aprovação do mínimo. “Vamos ter de unificar o diálogo com as bancadas que dão sustentação ao governo e com as centrais sindicais”, disse. “Não adianta ter muita bondade com o mínimo e dar um valor maior sem olhar a inflação, que corrói o valor do salário”, observou o petista.
São muitas as propostas para aumentar o mínimo acima dos R$ 540 no Congresso. Além da emenda do pedetista Paulo Pereira, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) é outro aliado que tem proposta para elevar o mínimo para R$ 560. O senador Paulo Paim (PT-RS), cujo o mandato é inspirado na bandeira do aumento do mínimo, já avisou que apoia a proposta de Cunha. “É uma iniciativa individual, não do partido. Mantenho a emenda porque ela não tem a ver com nenhum outro processo. Se o PDT pode apresentar R$ 580, porque a gente não pode defender R$ 560? Se não é viável, vão ter que mostrar por que não é”, argumentou Cunha.
O PSDB promete apresentar emenda para aumentar para R$ 600 o valor do mínimo, conforme foi proposto pelo candidato derrotado à Presidência José Serra. “Se tivéssemos ganhado a eleição cumpriríamos o prometido e o PT, com certeza, seria o primeiro a votar conosco a favor dos R$ 600”, afirmou o deputado Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA). “Vamos ver se a Dilma vai ter força para segurar o mínimo em R$ 545, como ela quer”, desafiou o tucano. “Acho que o governo tem condições de dar um aumento maior para o mínimo. Ampliar as políticas de redistribuição de renda não é apenas distribuir bolsas e sim dar aumento maior para o mínimo”, argumentou o deputado José Anibal (PSDB-SP).
A proposta dos tucanos de elevar o mínimo para R$ 600 está longe, no entanto, de ser consensual na oposição. As desavenças internas no DEM dividiram o partido: parte da bancada não quer nem ouvir falar no valor prometido pelos tucanos. “Não tenho nada a ver com essa proposta de R$ 600. Quando o Serra propôs isso, ele não me ligou para perguntar se eu achava bom ou ruim. Isso é proposta dele”, disse o presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ). “Não vamos arredar o pé dos R$ 600, que foi uma proposta do nosso candidato à Presidência”, contraditou o líder do DEM na Câmara, deputado Paulo Bornhausen (SC).
O governo passado estabeleceu uma regra de reajuste para o mínimo em acordo com as centrais sindicais. Pela metodologia, o salário mínimo é corrigido pelo Produto Interno Bruto (PIB) de dois anos anteriores e IPCA dos últimos 12 meses. Com base nesses cálculos, o mínimo este ano ficaria em cerca de R$ 543. Dilma avisou que concorda em arredondar o valor para R$ 545.