São Paulo (AE) – Entre os 19,4 milhões de trabalhadores com carteira assinada nas principais regiões metropolitanas do País, um grupo seleto se destaca por exercer profissões restritas, de baixíssima demanda e, por isso mesmo, com formação especial. Vagas para piloto de dirigível, motorista de caminhão gigante e operador de brinquedos radicais dificilmente vão aparecer nos classificados de empregos. Embora em quantidade irrisória, há mercado para esses profissionais, normalmente preparados pelas próprias empresas.
O carioca Eduardo Berensztejn, de 26 anos, ex-piloto de vôos charter, é um dos quatro brasileiros habilitados a pilotar o dirigível da Goodyear, aquele balão oval azul que moradores de São Paulo já se acostumaram a ver flutuando nos céus. Além do Ventura, como foi batizado, só existem mais três aeronaves como esta nos Estados Unidos e uma no Japão, todas usadas como ferramenta de marketing da fabricante de pneus. Nos três países há 22 profissionais preparados para essa função.
Berensztejn está na Goodyear há dois anos, incluindo o período de treinamento que precisou fazer nos EUA. Segundo ele, em relação a aviões, o Ventura "é mais prazeroso de pilotar, não chacoalha muito e a refrigeração é natural, pois a janela fica aberta o tempo todo". Além disso, segundo ele, a vista é mais interessante. O dirigível voa a uma altura mínima de 150 metros e máxima de 3 mil metros, e velocidade de 45 quilômetros por hora.
No chão, pilotar um caminhão com 13 metros de comprimento e rodas do tamanho de um automóvel exige também muita habilidade. Aos 37 anos, Sonia Cristina de Souza de Freitas Ribeiro foi uma das primeiras mulheres a ser aceita pela companhia mineradora Vale do Rio Doce para conduzir caminhões fora-de-estrada, usados em escavações de minas. Mesmo entre os homens, é uma profissão rara, informa Marcus Roger, diretor do Departamento de Segurança e Saúde Ocupacional e Administração de RH da Vale.
"Temos de formar esses profissionais, pois dificilmente são encontrados no mercado", diz Roger. Sonia está na função há quatro anos. Antes trabalhou como auxiliar de dentista e vendedora. "Como sou boa motorista, resolvi me candidatar à vaga" conta ela, que passou por longo período de treinamento.
É uma atividade desafiadora e desperta atenção, principalmente pelo fato de ser uma mulher ao volante, afirma a operadora de caminhão fora-de-estrada, funcionária da Vale em Minas Gerais. "Muitos achavam que eu não ia dar conta por ser um trabalho duro." Ela permanece cerca de seis horas nas minas e muitas vezes precisa trabalhar à noite.
Radical
O que para muitos é um brinquedo radical, comandar um simulador de vôo de asa delta é tarefa que exige atenção e conhecimento técnico. "O equipamento precisa ter 100% de segurança para funcionar", informa Valter de Sena Fratel, 34 anos, que exerce a função de ‘site controler’ no parque de diversões Hopi Hari.
Só pode exercer a profissão quem tem certificado da Sky Coaster, fabricante americana do simulador. No Brasil, segundo Fratel, não há mais do que 15 pessoas habilitadas. É preciso passar por teste anual nos EUA para ter a autorização renovada. O teste é baseado em um manual de 320 páginas que precisa estar na ponta da língua dos candidatos à profissão.
Fratel comanda o brinquedo em que o interessado salta de uma altura de 63 metros, preso a alguns equipamentos pela cintura, como se estivesse voando em uma asa delta.
"Tenho de averiguar se a velocidade do vento não está acima de 40 quilômetros, fazer uma checagem em toda a estrutura do equipamento, parafuso por parafuso, orientar e fornecer roupas e pára-quedas adequados aos interessados em saltar", conta Fratel, formado em administração de empresas. Ele atua no Hopi Hari, na cidade de Vinhedo (SP) desde 2001. Antes, trabalhou por sete anos no Play Center, em várias funções.
Alguns desses profissIonais acabam se envolvendo em atividades extras. Enquanto pilota o dirigível, Berensztejn avista cenas como incêndios e acidentes automobilísticos. "Pelo rádio de comunicação, falo com a base e as autoridades responsáveis são imediatamente avisadas."
Recentemente, ele ouviu pelo rádio que um pára-quedista havia se perdido em uma floresta no Rio de Janeiro, após saltar de uma área apropriada para o esporte. Berensztejn passou a procurá-lo e o localizou. "Como eu não podia descer, fiquei sobrevoando a área e avisei à equipe de salvamento que ele se encontrava bem abaixo do dirigível."