Enquanto para alguns setores da economia o inverno é marcado pela ?entressafra? e poucas vendas, para outros esse é o período adequado para colocar as contas em dia. É o caso do segmento de distribuição e revenda de gás liquefeito de petróleo (GLP), o tradicional gás de cozinha. De acordo com o Sindicato dos Revendedores de Gás do Paraná (Sinregás-PR), o consumo de gás nesta época do ano chega a crescer 30% na comparação com outros meses. Nem mesmo o recente aumento do preço do botijão – cerca de R$ 2,00, no mês passado – vem afastando os consumidores.
?Para o setor, esse crescimento de vendas é positivo. Mas também temos períodos de ?vacas magras?, em que é preciso até tirar dinheiro do bolso para pagar as contas?, ressalvou o presidente do Sinregás, José Luiz Rocha, referindo-se ao período de janeiro a março. ?Pelo menos para nós (de Curitiba) janeiro é um mês péssimo. As vendas ficam até 30% abaixo da média pelo consumo menor e porque muitas pessoas deixam a cidade?, apontou. ?E não há como cortar custos fixos, como aluguel. Nem tem como mandar funcionários embora.?
Segundo o presidente do Sin-regás, são os aquecedores à gás os principais responsáveis pelo aumento no consumo nessa época do ano. ?No verão, a água da torneira é de 20ºC; no inverno, chega a 7ºC, 8ºC. Até atingir a temperatura ideal, a quantidade de gás gasta é muito maior?, explicou. No inverno, o período de cozimento da comida também costuma ser maior, lembrou ele.
Recadastramento
Um dos grandes entraves que atrapalha o setor de gás de cozinha está com os dias contados. De acordo com José Luiz Rocha, há no Paraná cerca de 1,5 mil estabelecimentos de revenda legalizados e outros 6 mil clandestinos – ou seja, a proporção é de uma revenda legal para quatro ilegais. ?Estamos trabalhando com a ANP (Agência Nacional do Petróleo) para o recadastramento das revendas no Estado?, contou. Segundo ele, o mesmo procedimento já está sendo adotado no Rio Grande do Sul, interior de São Paulo, Pará, Piauí e Maranhão. Até então, o credenciamento junto à ANP era feita via companhias distribuidoras de gás.
Com o recadastramento, previsto na Portaria 297 de 2003, os revendedores têm que enviar cópias de cinco documentos – alvará, inscrição estadual, CNPJ, vistoria do Corpo de Bombeiros e contrato social – à ANP. ?É montado um processo e a ANP vai verificar todos os documentos. Estando tudo certo, será publicado no Diário Oficial da União determinando que a revenda pode atuar?, explicou Rocha. A partir do anúncio do recadastramento – que deverá se iniciar no Paraná até o final deste ano -, o revendedor terá prazo de dez meses para encaminhar todos os documentos exigidos e receber a autorização da ANP. Quem não fizer todo o procedimento no prazo estipulado estará atuando na ilegalidade – já que revender derivado de petróleo sem autorização é um crime – e, portanto, ficará sujeito a penalidades.
?O clandestino traz tudo de ruim: não paga impostos, portanto gera prejuízos aos cofres públicos; também não oferece garantia do peso do botijão e seus funcionários não têm habilidade para a assistência técnica?, criticou. Segundo Rocha, é comum ainda que revendas clandestinas adicionem água no botijão, dando a impressão de que está cheio. O presidente do Sinregás-PR acredita que o recadastramento reduzirá em até 80% a clandestinidade atual e proporcionará um maior controle do setor. ?O recadastramento vai mostrar, inclusive, quantos somos. Nem nós temos os números exatos?, arrematou.
Novo aumento de preço está previsto para setembro
Para quem acha que o gás de cozinha está caro, uma má notícia: o preço do botijão deve ter novo aumento nos próximos meses. É que a data-base dos trabalhadores do setor – no Paraná, são cerca de mil ligados às distribuidoras de gás e outros quatro mil nas revendas – é no dia 1.º de setembro, e o Sindicato dos Revendedores de Gás no Paraná (Sin-regás-PR) já avisou que o aumento dos salários será repassado ao consumidor.
?Para as revendas, é impossível absorver esse aumento de custo?, afirmou o presidente do Sinregás-PR, José Luiz Rocha. Segundo ele, o preço do botijão de 13 quilos está estabilizado entre R$ 32,00 e R$ 34,00. Já o custo para a revenda é de aproximadamente R$ 26,00. O último aumento concedido pelo governo federal às distribuidoras de gás ocorreu em dezembro de 2002. ?Nesse período subiram a energia elétrica, o telefone, o salário?, lembrou.
De acordo com o secretário do Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Derivados de Petróleo no Estado do Paraná, Valdir Luiz Dias, a categoria está reivindicando a reposição integral da inflação acumulada no período, aumento de 10% relativo a perdas salariais desde 94 e à produtividade e a fixação do piso salarial regional de R$ 427,00. Para ele, o aumento de custos para os revendedores deve refletir em aumento de 10% no preço do botijão para o consumidor final.