Cresce a oferta de serviços em domicílio

Está cada vez mais comum contratar um serviço, e recebê-lo na própria casa. O que para os clientes é sinônimo de comodidade e conforto, para os profissionais é um novo filão de mercado. Essa nova realidade está intimamente ligada à economia do País, que tem como reflexo um aumento do mercado informal.

Há 16 anos a manicure Maria Rosa de Castro Vieira optou por atender os clientes em casa. “Eu não gosto de ficar parada, e esperar o cliente aparecer no salão me incomodava”, disse. Por isso, ela pegou a maleta com esmaltes e lixas de unha e foi atrás deles. Hoje, Maria atende uma média de vinte pessoas por dia, sempre com horário e local marcados. A manicure garante que consegue atingir esse número porque “sou rapidinha, e em 40 minutos faço o pé e a mão”. Além disso, procura adequar a agenda em endereços de bairros próximos.

O preço cobrado pela comodidade, garante, é o mesmo dos salões de beleza: em torno de R$ 12 para os pés e mãos – o valor sobe para R$ 15 quando a cliente mora um pouco mais longe. Maria afirma que a despesa maior do trabalho é com o combustível, cerca de R$ 500 por mês. Porém, garante que consegue ter um lucro aproximado de R$ 2 mil. “Eu dificilmente ganharia isso se ficasse em casa”, falou.

E foi a possibilidade de aumentar o rendimento que fez a massagista Almira Marques da Silva deixar a clínica onde trabalhava para formar uma clientela, que recebe atendimento diferenciado em casa. “A clínica se faturasse R$ 20 mil por mês, eu só ganhava R$ 700. Agora não, pois o rendimento é todo meu”, falou. Almira afirma que já chegou a ganhar R$ 3 mil por mês, mas agora esse rendimento caiu 60% porque ela reduziu os horários de atendimento em função de questões pessoais.

Além dos chamados ?pacotes? de massagens – estética ou terapêutica – que podem variam de R$ 100 a R$ 200, as clientes ainda pagam o vale-transporte. Junto com os cremes, ela leva para a sessão um equipamento de ultra-som, e nos dias mais frios, um lençol térmico. Mas garante que o principal ?equipamento? são suas mãos. Ela conta que em um único dia atende cinco pessoas da mesma família, o que também facilita o seu trabalho.

Tanto para a manicure Maria, quanto para massagista Almira, a atividade extrapola as questões profissionais, já que as clientes se tornam amigas. “A gente acaba criando um vínculo, e eu já fui convidada para festas de aniversário e casamento”, conta Maria. Segundo Almira, um ponto muito positivo é a confiança que os clientes depositam nela, que interpreta como uma forma de amizade.

Pizza

Que tal reunir os amigos e família em casa, ou os colegas de trabalho no escritório para uma rodada de pizza? Acha que isso vai ser difícil de organizar? Não se preocupe, o Homem Pizza faz tudo isso pra você! E é com essa filosofia que o serviço vem ganhando espaço há seis anos em Curitiba. O gerente do Homem Pizza, Sílvio Neves, disse que idéia foi trazida pelo proprietário da Itália, e hoje faz uma média de 200 eventos por mês, de janeiro a novembro, e 400 eventos em dezembro, sendo que tem condições de atender até 35 festas simultaneamente.

Para o gerente, o sucesso do empreendimento foi conquistado pela praticidade, qualidade e custo. A equipe de pizzaiolos e garçons chega ao local do evento e precisa de apenas 30 minutos para se organizar. Ele ficam no local por três horas e oferecem 50 sabores diferentes de pizzas, calzones e sobremesas, tudo feito na hora, em um forno a gás. O custo varia de R$ 6 a R$ 11 por pessoa. Hoje a empresa conta com 80 funcionários, entre contratados e tercerizados.

Clientes

Para quem contrata os serviços a domicílio, a palavra de ordem é comodidade. A jornalista Valdireni Alves afirmou que optou pela manicure em casa pela falta de tempo, e porque tem confiança de que será atendida durante uma emergência. “Muitas vezes era avisada em cima da hora que teria uma reunião de trabalho no dia seguinte, e a manicure vinha me atender às 23h ou 6h”, contou. Para ela, esse serviço não é futilidade, é uma necessidade, “pois a aparência faz parte do trabalho”. Aliado a isso, diz Valdireni, enquanto faz as unhas pode continuar resolvendo questões de trabalho pelo telefone e tomando providências em casa. “Só nós mulheres sabemos como fazer até cinco coisas ao mesmo tempo”, brincou.

A empresária Salete Távora diz que fazer massagem em casa é prolongar o relaxamento. “Se vou a uma clínica perco tempo no trânsito e esperando pelo atendimento, e só depois vou pra casa. Mas se a massagem é feita em casa, depois só coloco um roupão e prolongo a sensação de bem-estar”, falou. O coordenador de vendas Leonel Lucas disse que optou pelo serviço de pizza em domicílio pelo conforto e praticidade. “Eu sempre promovo eventos para os clientes, e hoje não me preocupo mais com o lanche, focando minha atenção nos clientes”, falou.

Quase 51% dos trabalhadores são informais

“A queda na renda da população tem feito com que se encontrem maneiras alternativas de ganhar a vida.” A afirmação é do economista do Dieese – Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Sócio- Econômicos, Sandro Silva. Segundo ele, dados da Pesquisa Nacional de Amostragem Domiciliar do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – feita em 2002, apontam que, no Paraná, da mão-de-obra ocupada, que engloba os empregados, trabalhadores domésticos e por conta própria, 51% estão na informalidade.

Para Sandro Silva, esse número tende a crescer já que a população economicamente ativa (PEA) do Estado aumenta cerca de 120 mil por ano, mas a economia não cresce na mesma proporção. “Como elas precisam entrar no mercado de trabalho, acabam indo para a informalidade”, falou. Mas o principal problema, no entendimento do economista, é que as pessoas acabam optando por atividades que garantam uma maior renda, sem pensar no futuro. “Se não estão formalmente empregadas, não recolhem INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social) e outros benefícios, que no futuro irão fazer diferença”, falou.

Essa foi uma preocupação da massagista Almira Marques da Silva. Há seis anos trabalhando como autônoma, garante que recolhe o INSS e paga um plano de previdência privada. “Mesmo por conta, eu penso no futuro, pois não quero ficar trabalhando a vida toda”, afirmou.

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