O Comitê Global de Detentores de Bônus da Argentina (GCAB, sigla em inglês), anunciou ontem ter ficado “extremamente decepcionado” com a oferta de reestruturação da dívida com os credores privados apresentada pelo governo argentino, a mesma reação observada entre os alemães e espanhóis. O governo argentino, no entanto, considerou “satisfatória” a repercussão da nova oferta, que confirma o corte de 75% do capital, mas reconhece os juros não pagos.
O GCAB, com sede em Roma e Nova York, afirmou, em um comunicado assinado por seus dois presidentes, Hans Humes e Nicola Stock, que “a oferta unilateral da Argentina é inaceitável tanto em sua forma quanto em seu resultado”.
Como no início de maio, o GCAB, que reúne investidores com 37 bilhões de dólares em títulos da dívida pública argentina não pagos, lamentou não ter sido suficientemente consultado para o esboço da nova proposta. Também pediu que Buenos Aires “inicie imediatamente negociações significativas e construtivas com os credores da nação, que conduzam a uma reestruturação justa da dívida argentina”.
Contando os juros, o valor da dívida argentina a ser reestruturada sobe de 81 bilhões para 104 bilhões de dólares.
Os detentores alemães de bônus argentinos também rejeitaram a nova proposta. “Achamos que o governo argentino pretende enganar seus credores. O presidente Kirchner faz o possível para que acreditemos que os argentinos são ladrões”, disse Stefan Engelsberger, fundador e presidente da Associação de Credores Alemães da Argentina (IGA). “A nova oferta do governo argentino terá pouco apoio”, previu. No momento, os bancos alemães recomendam aos detentores de bônus argentinos não se desfazerem de seus títulos.
Na Itália, onde está boa parte dos detentores de bônus argentinos em moratória, o especialista em mercados emergentes citado pelo jornal Il Sole 24 Ore Walter Molano estimou que a nova oferta pareceria “a metade do que os detentores de bônus estavam dispostos a aceitar”.
Última oferta
“É a última oferta”, disse o ministro argentino da Economia, Roberto Lavagna, quando questionado se faria alguma nova negociação que pudesse alterar a proposta.
O ministro da Economia, Roberto Lavagna, disse que a dívida a ser renegociada totaliza agora US$ 99,4 bilhões, que a Argentina prevê substituir por novos títulos no valor de US$ 38,5 bilhões (incluídos os juros), o que implica em uma redução de 61,2%. A redução apresentada pela Argentina é a maior na história das renegociações de dívida soberana. “A proposta está construída sobre bases que não comprometem o futuro da Argentina”, disse Lavagna em entrevista coletiva.
Os US$ 81,2 bilhões em títulos em moratória que foram reconhecidos na proposta original como dívida a ser renegociada foram ampliados na nova oferta a US$ 99,4 bilhões, porque o governo decidiu acrescentar os juros não pagos de janeiro de 2002 até dezembro do ano passado. Na proposta de Dubai o governo argentino havia dito que os juros atrasados estariam excluídos da negociação.
A redução nominal de 61,26% da dívida, pela qual o país pagará taxas de juros entre 1,36% e 8,21% com prazos entre 30 e 42 anos, fará com que o valor real de mercado dos novos títulos seja de US$ 25 para cada US$ 100 dos títulos originais. Lavagna explicou que, se mais de 70% dos credores aceitar a oferta, o governo reconhecerá os juros não pagos até junho de 2004, o que aumentaria o montante total a ser reestruturado a US$ 104,1 bilhões.
Nessa segunda possibilidade, a redução pretendida pelo governo seria mantida em US$ 60,9 bilhões, com a emissão de novos títulos por US$ 43,2 bilhões e uma depreciação nominal de 58,5%.
Lavagna afirmou que, segundo os cálculos do governo, “a dívida após a reestruturação representará 85% do Produto Interno Bruto em dezembro deste ano”. Em 11 de junho, o governo argentino enviará aos organismos reguladores dos diversos países onde serão cotados os novos títulos a solicitação para emitir mais papéis de sua dívida.
A oferta inclui um título sem depreciação de capital, outro com uma pequena redução e um terceiro com uma redução maior.
O Bônus Global argentino 2008 subiu 4,32% na terça-feira, fechando a 30,125% de seu valor de face. Os mercados locais também responderam positivamente à divulgação dos detalhes da nova oferta.