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Começou ontem o processo de troca dos US$ 81,8 bilhões da dívida da Argentina com credores privados, que está com pagamento suspenso há três anos. O governo Néstor Kirchner propõe trocar os papéis por novos tílulos, com deságio de 60% a 75% sobre o valor de face. Os credores têm até 25 de fevereiro para decidir se aceitam a proposta.

Luis Corsiglia, presidente da comissão responsável pela recepção das respostas dos credores, informou já ter recebido resposta positiva dos fundos de pensão privados da Argentina, que detêm cerca de 16% do valor da dívida em moratória. O presidente Néstor Kirchner reafirmou que o país não vai melhorar a proposta de renegociação da dívida.

O mesmo discurso foi reforçado pelo secretário de Finanças argentino, Guillermo Nielsen, que, em entrevista ao jornal italiano Il Sole, afirmou que qualquer tentativa de melhorar a oferta argentina geraria instabilidade no país.

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A entrevista do secretário argentino foi uma tentativa de acalmar os ânimos dos cerca de 450 mil italianos, a maioria pequenos e médios poupadores, donos de cerca de 16% da dívida em renegociação. Os italianos representam o segundo maior grupo de credores, ficando atrás apenas dos investidores da própria Argentina.

A Itália classificou como "avarenta" e "de má-fé" a proposta de reestruturação da dívida. A dura crítica do governo de Silvio Berlusconi foi feita no parlamento italiano pelo ministro da Economia e Finanças, Domencico Siniscalco, que falou até em um "litígio internacional" de conseqüências imprevisíveis se a Argentina não mudar sua proposta.

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Para o governo argentino, a proposta terá sido um êxito se 50% dos credores aderirem. O principal organismo financeiro internacional, o FMI, não está interferindo. Mas o ideal, segundo analistas econômicos, parece ser que pelo menos 75% dos credores aceitem, e isso parece ser muito difícil.

A moratória – suspensão do pagamento da dívida pública – foi decretada em 2001, em meio a maior crise da história da Argentina. Na ocasião, o governo anunciou que não tinha condições de pagar uma dívida de US$ 120 bilhões. Agora, a economia do país vem se recuperando e o governo quer voltar a pagar parte da dívida para ter financiamento internacional.

O total a ser renegociado é de US$ 82 bilhões. Os mais de 150 títulos argentinos nas mãos dos credores seriam trocados por três novos papéis. O governo quer pagar no máximo 40% do valor original da dívida e com prazo maior: 42 anos.

Os principais credores da dívida argentina em moratória estão espalhados entre investidores de vários países. Os principais são a própria Argentina (38,4% do total), Itália (15,6%), Suíça (10,3%), Estados Unidos (9,1%), Alemanha (5,1%) e Japão (3,1%).