São Paulo
(AE) – Ao divulgar, na última terça-feira, os números relativos às operações de crédito realizadas em setembro no Sistema Financeiro Nacional (SFN), o Banco Central (BC) deixou claro para analistas que o crescimento do crédito no País ainda não é uma realidade indiscutível. Apesar de as operações registradas no SFN apontarem para uma expansão de 12,3% em 2004, a alta só pode ser comemorada, de fato, em termos absolutos, pois em termos reais, no entendimento dos especialistas, o crédito praticamente andou de lado este ano.A leitura pode ser tirada da análise da participação do crédito total no Produto Interno Bruto (PIB). Em janeiro, os empréstimos correspondiam a 26% do PIB, número que se manteve praticamente inalterado – chegando a representar 25,7% em março – e, neste mês, atingiu uma representatividade de 26,3%. No Chile, uma economia que tem problemas semelhantes à brasileira, o crédito representa 60% do PIB. Já em países desenvolvidos, essa relação costuma superar 100%.
Para o analista financeiro da ABM Consulting, Antonio Carlos Carvalho, o crescimento do crédito no Brasil está longe de ser satisfatório. “Ainda não é possível afirmar que o crédito no País está de fato crescendo, pois os números nos mostram que a expansão é mínima em relação à demanda”, diz.
Segundo o executivo, a situação ainda é mais grave se for levada em consideração a participação da indústria no total de empréstimos concedidos. De acordo com os cálculos de Carvalho a presença da indústria como tomadora de empréstimos, se comparada a setembro de 2003, caiu cerca de 4,5%. “O único aumento considerável foi no segmento da pessoa física, o que não sustenta um crescimento continuado da economia”.
No agronegócio, por exemplo, a participação do crédito em relação ao PIB caiu 0,4% nos últimos 12 meses, uma dado bastante revelador quando se discute empréstimo como instrumento alavancador da economia. “Por conta disso, o produtor acaba precisando procurar financiamento junto a participantes da cadeia produtiva, que é invariavelmente mais caro do que o oferecido no sistema financeiro”, diz.
Para o economista da Rosenberg & Associados, Fernando Fenolio, o crescimento expressivo do crédito só pode ser considerado por conta do fraco desempenho registrado em 2003. “A expansão real do crédito ainda não ocorre da maneira que gostaríamos de ver”, afirma. De acordo com o executivo, a expansão tímida – em termos reais – registrada esse ano pode sofrer um revés já no primeiro semestre de 2005. “Com certeza, o ano que vem deve ser marcado por uma desaceleração do ritmo de crescimento das carteiras, ou até mesmo queda nos empréstimos, o que vai comprometer o crédito em 2005.”
A expectativa do executivo se baseia na política de aperto monetário adotada pelo BC neste segundo semestre. A Rosenberg estima uma taxa de juros básica (Selic) em 18% no primeiro trimestre do próximo ano. “Com esse cenário, poderemos experimentar um desempenho negativo do crédito já no início do primeiro semestre de 2005”, prevê.
Da mesma maneira que as altas da Selic a partir de setembro desse ano não devem mais comprometer a concessão de crédito em 2004, a continuação do aperto monetário – fato já tomado como certo por analistas – vai trazer efeitos negativos para os empréstimos no próximo ano. “A projeção aponta para uma trajetória declinante, só falta saber quando vai começar a queda.”
