Crédito e gerenciamento “matam” maioria das micros

Brasília (AE) – A escassez e o alto custo do crédito, as dificuldades gerenciais e o peso da carga tributária estão entre os principais motivos que levam metade das micro e pequenas empresas a fecharem suas portas antes de completarem dois anos de existência, no País. A conclusão é da primeira pesquisa de âmbito nacional realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) sobre mortalidade de empresas no Brasil. Eles analisaram, com base em dados das Juntas Comerciais dos estados, cerca de 1.300 empreendimentos que começaram a funcionar em 2000, 2001 e 2002.

A sondagem, divulgada ontem, identificou que 49,4% das empresas que começaram a funcionar em 2002 fecharam no início de 2004. O porcentual de extinção sobe para 56,4% quando considerados os negócios abertos em 2001 e para 59,9% quando entram na estatística os iniciados em 2000. O presidente do Sebrae, Silvano Gianni, disse que essa taxa de mortalidade brasileira é muito alta, superando até as piores realidades de países desenvolvidos.

“Morte de microempresas jovens acontece em todo o mundo, mas nos países desenvolvidos essa taxa varia entre 20% a no máximo 40%”, disse Gianni. Para o Sebrae, há espaço para reduzir essa mortalidade precoce adotando-se um sistema tributário diferenciado, menos burocracia e maior divulgação do apoio gerencial e de capacitação dos novos empresários. Um projeto de lei criando o chamado Super Simples, que criará um sistema tributário mais simples e menos burocrático, deve ser encaminhado ao Congresso até outubro, segundo Gianni.

Problemas

O dono da loja de confecções Moda Jovem, localizada num dos shoppings de Brasília, Diógenes Taroni, conhece bem esses problemas. Essa é sua quarta tentativa em tocar um negócio. Ele já teve três experiências negativas com outros estabelecimentos abertos por meio de franquias de marcas de roupas. Depois de problemas iniciais com os franqueadores, se viu envolvido em dívidas para ter capital de giro, tendo que se desfazer das lojas anteriores e recomeçar os empreendimentos. Taroni destacou como fundamentais à estabilidade de um empreendimento ter um bom local de venda e o treinamento adequado para tocar um negócio. A pouca oferta de crédito barato é um dos grandes obstáculos, diz ele.

Perfil

Como o pequeno empresário brasiliense, a pesquisa do Sebrae – que também ouviu 5.727 empreendedores – revela que 96% das firmas fechadas prematuramente são microempresas, pois têm de um a nove empregados e um faturamento anual menor que R$ 120 mil/ano. Quando analisados os ramos de atividades econômicas, 51% das empresas extintas estavam no comércio, 46% nos serviços e 3% na indústria. “Quanto menor o porte das empresas, maior é a mortalidade”, disse o gerente da Unidade de Estratégias do Sebrae, Gustavo Morelli.

Devido ao custo dos empréstimos, a maior parte dos pequenos empresários que fecharam disseram ter aplicado recursos próprios no negócio e cerca de 82% perderam mais da metade do investimento com a falência. Por isso, a maioria volta a ter um trabalho com carteira assinada e apenas 14% tentam abrir uma nova empresa.

Segundo o levantamento, as Juntas Comerciais registram em média o surgimento de 470 mil novas pequenas firmas no País por ano. O Sebrae estima que neste início do ano houve o fechamento de 772,6 mil empresas, com até quatro anos de vida, de um total de 1,3 milhão de negócios iniciados nos três anos analisados. Esse movimento teria levado à redução média de 2,4 milhões de postos de trabalho.

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