O desemprego chegou também às empresas especializadas em renegociar dívidas com inadimplentes. Na crise de 2009, quando o calote do consumidor cresceu, mas o emprego se manteve firme, as empresas de cobrança nadaram de braçada e ganharam dinheiro renegociando as dívidas. Desta vez, no entanto, elas não estão conseguindo fechar os acordos de renegociação e, pressionadas por aumentos de custos, se viram forçadas a demitir os cobradores.

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Entre contratações e demissões, em abril foram cortadas 1.017 vagas no setor de cobrança, segundo cálculos feitos pelo Instituto Gestão de Excelência Operacional em Cobrança (Geoc) com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. “A demissão de cerca de mil funcionários em um único mês é o maior corte que eu já presenciei em 25 anos de mercado”, afirma Jefferson Frauches Viana, presidente do Instituto Geoc, que reúne as 14 principais empresas de cobrança do País. O setor emprega cerca de 99 mil trabalhadores, número que vem se reduzindo a cada mês.

Celso Senise, presidente da Associação Nacional das Empresas de Recuperação de Crédito, que reúne 200 companhias do setor, diz que os cortes atingiram, em média, entre 20% e 30% dos quadros. Mas houve empresas que demitiram até a metade dos funcionários.

Com a retração na economia, a inadimplência cresceu e o serviço das empresas de cobrança também. A diferença da crise atual em relação à de 2009 é que ficou mais difícil fechar acordos de renegociação de dívidas em atraso. “Conseguir acertar o tamanho do bolso para o inadimplente pagar a parcela hoje está mais difícil”, diz Viana. Ele conta que, mesmo em renegociações fechadas, existe uma reincidência da inadimplência. O motivo é o aumento do desemprego.

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“Na crise de 2009, fazíamos acordos de parcelamento das dívidas pendentes mais assertivos, pois as pessoas continuavam empregadas”, diz Senise.

Custos

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Senise conta que o movimento do setor de cobrança neste ano cresceu entre 30% e 40% por causa do aumento do calote, mas o índice de sucesso das negociações caiu entre 30% e 40%.

Pior do que isso é que o avanço do insucesso foi acompanhado de aumento de custos de cobrança. “Hoje, tenho de ter 30% a mais de esforço para recuperar o crédito. Isso significa mais ligações telefônicas, mais ferramentas de recuperação de crédito, mais envio de SMS, mais emissão de boletos, mais custos”, conta Viana. Senise concorda com Viana e diz os custos de cobrança subiram. “Vou ter de ligar mais vezes para o inadimplente para fazer a cobrança, e não estou obtendo sucesso.”

Como a remuneração das empresas de cobrança é um porcentual das renegociações efetuadas, quando o índice de sucesso diminui, essas companhias ganham menos pelo serviço. E, com aumento de custos, a saída é demitir. Senise acredita que a tendência de corte de pessoal no setor deve piorar. “Só não vai ser uma catástrofe porque normalmente a atividade aumenta no segundo semestre.”

Hoje, há no País cerca de 3 mil empresas de cobrança. O setor ganhou importância impulsionado pelo avanço do crédito, que praticamente dobrou a participação no PIB em dez anos. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.