São Paulo – Pelo menos 20 mil pessoas, em todo o Brasil, têm ação na Justiça contestando as altas taxas de juros cobradas no mercado nas diversas modalidades de crédito, segundo a Associação Nacional de Defesa dos Consumidores do Sistema Financeiro (Andif). O presidente da entidade, Aparecido Donizete Piton, diz que em mais de 80% dos processos, os clientes conseguem acordo com as instituições, que às vezes reduzem em 60% ou 70% o débito.
É o caso do segurança José Luiz Filho, de 56 anos, que em julho ganhou na Justiça o direito de não pagar o valor total exigido por uma companhia de leasing. Ele passou quatro anos pagando financiamento de um veículo em dólar – dívida que já havia sido renegociada com a desvalorização do real, em 1999.
Após quitar todas as parcelas, ele descobriu que ainda havia um débito de R$ 18 mil referente a juros sobre juros. Sem condições de arcar com mais essa despesa, ele procurou a Justiça em janeiro deste ano. O resultado não poderia ter sido melhor para o segurança. A dívida de R$ 18 mil foi reduzida para R$ 2 mil, e hoje ele não quer ouvir falar de financiamento. “Depois de todas as humilhações que passei, não recomendo ninguém a fazer compras a prazo. Se tiverem dinheiro, paguem à vista”, aconselha.
Segundo Piton, os juros cobrados hoje são impraticáveis para uma economia que quer crescer e para o nível de pobreza da população. E “não há motivos lógicos que justifiquem uma instituição financeira a captar recursos com taxas de juros médios de 8% e a emprestar a 268% ao ano, no caso de pessoas físicas, e até 120%, para pessoa jurídica.”
Não é por acaso, diz, que os índices de inadimplência nos cheques sem fundos bateram recorde nos primeiros sete meses do ano.
