A redução pela metade do auxílio emergencial, de R$ 600 para R$ 300, e a inflação no preço dos alimentos contribuíram para a desaceleração da retomada das vendas no comércio. O ano de 2020 já registra a maior inflação de alimentos desde a implantação do Real, em 1994.
Mesmo assim, o varejo atingiu patamar inédito em setembro, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados quarta-feira (11), mas com ritmo menor do que apresentado nos últimos meses.
O comércio brasileiro fechou setembro com alta de 0,6% em comparação com agosto. Em julho, o volume de vendas do varejo já havia atingido o maior patamar da série histórica da pesquisa e também havia apontado recuperação das perdas com a pandemia.
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O resultado de setembro mostra uma forte desaceleração em relação aos meses anteriores, quando foram registradas altas de 12,2% em maio, 8,7% em junho, 4,7% em julho e 3,1% em agosto.
Segundo especialistas ouvidos, o movimento de acomodação é natural em primeiro lugar pela base de comparação negativa com o início da pandemia, já que em abril o varejo registrou queda recorde, mas outros fatores contribuíram para a estabilização do setor.
Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, destacou que o segmento de mercados vem sofrendo redução no volume de vendas nos últimos três meses, muito por conta da inflação dos alimentos, principalmente entre as famílias de rendas mais baixas.
“Além dos alimentos, tem também a questão de que começa uma redução na parcela do auxílio”, disse Tobler. Ele destacou que, com a queda pela metade no benefício -que passou de R$ 600 para R$ 300 e está previsto para durar apenas até o final do ano -, por mais que alguns beneficiários ainda recebam parcelas atrasadas, os consumidores ficam naturalmente mais cautelosos.
“Eles já se preparam para a redução do auxílio e mostram essa desaceleração. Setembro mostra como deve ser o ritmo de recuperação daqui para frente, mais gradual”, afirmou.
Inflação dos alimentos
A inflação dos alimentos pode ser notada na diferença de crescimento das vendas e de receita do setor de hiper e supermercados. De abril a setembro, enquanto o volume de vendas cresceu 4,7%,a receita do setor cresceu 10,3%, segundo o IBGE.
“A inflação de alimentos em setembro impactou bastante. Nos três últimos meses, os indicadores de receita do setor registram dois índices positivos, 2,1% em setembro e 0,5% em julho, e um negativo, -0,7% em agosto. Já os indicadores de volume foram todos negativos em setembro (-0,4%), agosto (-2,1%) e julho (-0,3%)”, disse Cristiano Santos, gerente da pesquisa do IBGE.
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Segundo Otto Nogami, economista do Insper, por causa da inflação, o crescimento das vendas vem se dando em produtos considerados essenciais. Ele apontou que, na medida em que o isolamento social no país foi reduzido, as pessoas foram repondo suas necessidades, o que contribuiu para o comportamento dos preços.
“A partir do momento que estoques são completos nas residências o consumo, cai. Associado à redução do auxílio, a grosso modo reduz o consumo pela metade”, disse Nogami.
Para Ricardo Macedo, professor do Ibmec, a massa de recursos disponível para compras o varejo deve diminuir com a perspectiva de que não haverá prorrogação no auxílio emergencial. “As famílias começam a mudar o comportamento com relação às compras, então a tendência é estabilizar o consumo”, disse o professor. “Com o fim do benefício, as pessoas começam a ter uma postura mais de precaução em relação a esses gastos, pois precisam fazer esse dinheiro sobrar”, acrescentou.
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Macedo destacou que a situação do emprego do país não é boa –a taxa de desocupação chegou a inéditos 14,4% no trimestre encerrado em agosto, totalizando 13,8 milhões de pessoas sem trabalho–, o que deixa o cenário para 2021 incerto.
“Tem o aumento do desemprego, as pessoas sem recursos e em busca de trabalho pela redução do isolamento, e o varejo caindo, pois as pessoas vão precisar gastar menos vai lá na frente. A tendência é de queda”, disse o professor.