A maioria dos economistas de corretoras já está conformada que a aprovação da reforma da Previdência pode custar a sair. Sem a medida, tida como uma forma de garantir a estabilidade fiscal no curto prazo, as casas estão adotando uma direção cada vez mais defensiva nas carteiras do investidor. A aposta, agora, concentra-se em ações mais descoladas do cenário político ou que podem se beneficiar da desvalorização do real.

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Para minimizar os riscos na carteira em meio às incertezas, especialistas aconselham escolhas de longo prazo. “Hoje as ações estão baratas. Uma janela confusa como esse período é algo raro de acontecer”, afirma Guilherme Macêdo, sócio da Vokin Investimentos.

Os setores vistos com bons olhos são ligados a consumo, na opinião de Macêdo, porque, em um momento de recuperação, são os primeiros a dar bons retornos. O Magazine Luiza é uma das que já se encontram entre as cinco ações mais valorizadas no ano. Ele também indica empresas de saúde, que têm um mercado crescente com o envelhecimento da população, e empresas de alimentos, que são bastante resilientes.

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Um setor para se ter mais cautela dentro desse cenário de instabilidade política, segundo ele, são os bancos – sobretudo com a medida provisória que abre espaço para que bancos e corretoras façam acordos de leniência com o Banco Central, mesmo que já estejam envolvidos em alguma investigação. Para quem é mais conservador, Macêdo aconselha os títulos públicos atrelados ao IPCA, já que o ganho real está maior com a baixa da inflação e os juros ainda num patamar alto. Alexandre Espírito Santo, da Órama, acredita ainda que a Selic – taxa básica de juros – vai cair em ritmo menor, garantindo um bom retorno para os título de renda fixa.

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De olho em Brasília. A cautela das corretoras é reflexo do andamento das reformas. A da Previdência era a mais aguardada mas, segundo o mercado, ficou distante após a delação da JBS, que encurtou o raio de apoio ao presidente Michel Temer. E mesmo que a reforma trabalhista seja votada no Senado em caráter de urgência, o que poderia ser um termômetro para a Previdência, Ignacio Crespo, economista da Guide, diz que dificilmente vai diminuir o clima de incerteza em Brasília e abrir espaço para uma nova reforma. “Se no período pré-choque JBS (a reforma da Previdência) já era difícil e nada trivial, agora é ainda mais improvável.”

O economista diz que a corretora projetou um cenário em que o Índice Ibovespa fica entre 60 e 65 mil pontos, além do dólar entre R$ 3,25 e R$ 3,45. “Olhando para o cliente pessoa física, nas carteiras semanais colocamos empresas que se beneficiariam de um dólar mais alto.” Quando há um imbróglio político e um cenário de mais risco, explica, o real tende a se desvalorizar.

André Perfeito, da Gradual Investimentos, aposta que a Previdência não passa em 2017, mas acredita que ela pode sair em 2018 se a economia ganhar um pouco mais de fôlego. No entanto, ele pondera que será difícil convencer os parlamentares a aprovarem medidas impopulares em ano de eleição.

A corretora Rico mantém a mesma recomendação aos investidores, apesar da turbulência política. “A aprovação da reforma fica cada mais difícil. Mas, pela situação fiscal do País e pela perspectiva de continuidade da equipe econômica, ainda há chances de passar neste governo”, avalia o analista-chefe Roberto Indech.

Já o economista da corretora Órama, Alexandre Espírito Santo, não acredita que a reforma seja aprovada – pelo menos não do jeito que a equipe sugeriu. “Se passar, serão alguns aspectos pontuais. Sairá extremamente desidratada”, afirma. Na opinião de Phillip Soares, da Ativa Investimentos, do ponto de vista econômico, “há pouca diferença entre a não aprovação ou a aprovação de um texto demasiadamente diluído, com pouco impacto no Orçamento.”

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.