O Brasil é um dos países emergentes mais vulneráveis a uma crise financeira, segundo um estudo da Wells Fargo Securities corretora. O País ficou em quinto lugar no ranking, que engloba as 28 maiores economias em desenvolvimento. O relatório compara a situação atual com a crise asiática de 1998, apontando que agora a dívida externa dos emergentes está significativamente menor, mas, ao mesmo tempo, o crescimento econômico potencial destes países também recuou bastante. “Nós não acreditamos que uma onda de crises financeiras no mundo emergente está prestes a acontecer, mas os desdobramentos nestas economias precisam ser acompanhados nos próximos anos”, dizem os analistas Jay Bryzon e Mackenzie Miller.

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O relatório do Wells Fargo aponta que os países mais vulneráveis, como o Brasil, são aqueles com grandes déficits em conta corrente, que precisam ser financiados pela entrada de capital externo. “A alta nos juros de longo prazo nos Estados Unidos, causada pela especulação de uma redução iminente nas medidas de estímulo do Federal Reserve, tornou os ativos financeiros em muitos emergentes menos atraentes. Com a contínua queda na entrada de capital para estes países, suas moedas ficaram sob pressão”, cita o estudo.

Os analistas comentam que, em geral, o equilíbrio fiscal se deteriorou nos países emergentes nos últimos anos. Mesmo assim, os déficits em conta corrente ainda são pequenos, ou os países continuam com crescimento forte o bastante para manter a relação dívida/PIB mais ou menos estável. Desta forma, contanto que os fundamentos econômicos dos emergentes continuem sólidos, a maioria não deve ter problemas para manter o serviço das suas dívidas, “pelo menos não no futuro previsível”.

Ranking

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Para listar os países mais vulneráveis a uma crise financeira, os analistas da Wells Fargo analisaram cinco itens: taxa real de câmbio, crescimento do crédito no mercado doméstico, expansão do PIB, déficit em conta corrente e reservas internacionais. Eles se basearam em um estudo dos economistas Jeff Frankel e George Saravelos que mostra que um país com grandes reservas internacionais pode ser capaz de evitar uma crise financeira. Neste critério o Brasil está bem, com reservas de aproximadamente US$ 376 bilhões, ou 16,1% do PIB, que o colocam no 13º lugar no ranking.

Nos outros quatro itens avaliados, no entanto, a economia brasileira está no fim do ranking. O pior deles é o crescimento do crédito doméstico para o setor privado, que desde 2009 acumula alta de 19,5%. Segundo a pesquisa da Wells Fargo, países que registram um rápido crescimento no crédito podem se tornar vulneráveis porque isso geralmente está associado a um relaxamento nas regras de concessão.

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Enquanto isso, a taxa real de câmbio do Brasil se valorizou 16,9% de 2009 para cá (23ª posição), o que é prejudicial porque favorece uma deterioração na conta corrente. No item déficit em conta corrente, o País, com saldo negativo próximo de 3,4% do PIB, também aparece no fim da tabela, na 21ª colocação. Em relação ao crescimento econômico, o Brasil ficou no 12º lugar, com uma expansão de 11,4% no período. Apesar de parecer um indicador positivo, isso também aumenta a vulnerabilidade a crises, já que muitas vezes o crescimento é acompanhado de uma expansão robusta do crédito e pode ampliar o déficit em conta corrente.

A equipe da Wells Fargo Securities alerta para o fato de que crises financeiras não são necessariamente inevitáveis nos países que lideram o ranking de vulnerabilidade. “Os mecanismos de auto-correção de uma economia podem começar a funcionar e/ou os elaboradores de políticas podem adotar ações para corrigir desequilíbrios antes que uma crise de amplo alcance se instale”, dizem os analistas.