A corrente de comércio brasileira está em queda pela primeira vez desde 2009. Nos primeiros seis meses do ano, a soma das importações e exportações da balança comercial foi de US$ 223,5 bilhões, uma queda de 3,6% na comparação com o mesmo período de 2013.
Há cinco anos, na última vez que a corrente de comércio recuou num primeiro semestre, a economia mundial enfrentava um período de forte recessão por causa da crise internacional. Em 2014, a corrente de comércio brasileira está menor, tanto pela queda das exportações como pela das importações.
As vendas para o exterior estão mais fracas por dois grandes motivos. Primeiro, a receita de exportação com commodities está menor por causa da queda dos preços no mercado internacional. Segundo, a crise da Argentina tem dificultado a exportação de produtos manufaturados fabricados no Brasil para o país vizinho, principal comprador do Brasil. A economia argentina enfrenta um momento difícil.
No primeiro trimestre, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 0,8% em relação ao quarto trimestre do ano passado, quando já havia caído 0,5%. A Argentina também tenta um acordo com credores para evitar um segundo calote em 13 anos.
No caso das importações, a redução correu pela diminuição no ritmo de atividade da economia brasileira. Com um crescimento mais fraco, o Brasil tem demandado menos produtos de outros países. “A queda da exportação e da importação é um reflexo da atividade econômica fraca”, afirma José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
Os sinais da desaceleração e demanda menor do Brasil ficaram evidentes no resultado da balança comercial de junho. No mês passado, a importação de bens de capital, que incluem maquinaria industrial e aparelhos para escritórios, recuou 17,7% na comparação com junho de 2013. No caso dos bens de consumo, a queda no período foi de 10,6% no período.
Países
O detalhamento dos números da corrente de comercio realizado pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) revela que a queda foi registrada principalmente com a Argentina. O recuo foi de 20,2% no primeiro semestre. A Argentina é responsável por 7% do total da corrente de comércio do Brasil. Fica atrás apenas da China (17%) e Estados Unidos (13%), que registraram aumento de 4%.
“Outros dois países importantes na corrente de comércio com o Brasil, o Japão e Coreia do Sul, também tiveram recuo, de aproximadamente 13%”, afirma Daiane Santos, economista da Funcex. “São dois países que também tiveram um crescimento do PIB, mas a taxa foi muito baixa no primeiro semestre deste ano”, afirma Daiane.
Futuro
Na avaliação dos analistas, o cenário para o segundo semestre ainda é bastante incerto para a balança comercial. Os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, preveem um superávit de US$ 2,70 bilhões neste ano.
Para a composição do panorama das exportações e importações, diversos fatores vão influenciar, como o tamanho da crise da Argentina, a confirmação das exportações de duas plataformas de petróleo – que deverão render uma receita de US$ de 2,5 bilhões ao País – e o impacto do fim da exportação da soja. Até junho, o Brasil já exportou 75% das 44 milhões de toneladas programadas para o embarque em 2014. Também vai influenciar a demanda do Brasil por produtos de fora. “Podemos ter um superávit não pelo aumento da exportação, mas pela queda da importação. Vale tudo”, diz Castro. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.