Copom surpreende e mantém juro em 16,5%

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) decidiu manter a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 16,5% ao ano. É a primeira vez que a taxa Selic fica no mesmo patamar após sete meses de cortes consecutivos. Mesmo assim, a taxa continua a menor desde o início de março de 2001 – quando os juros estavam em 15,25%.

A decisão surpreende a imensa maioria dos analistas de mercado que, segundo pesquisa divulgada pelo próprio BC na última segunda-feira, esperava um corte de só 0,5 ponto percentual. O BC já havia avisado, na ata da última reunião do Copom, que vinha percebendo sinais de crescimento em diversos setores da indústria e também do consumo e dos investimentos.

Porém, deve ter pesado mais na decisão, outra informação prestada também na última ata do Comitê, no qual falava que queda dos juros seria conduzida de forma “parcimoniosa” (modesta, não-abundante).

O medo de retorno da inflação – a quase totalidade dos índices fechou o ano em um dígito, apesar de ter “estourado? a meta estabelecida com o FMI – também pode ser um dos motivos para que o Copom tenha se mantido “moderado”.

Empresários esperavam que o Comitê mantivesse os cortes consecutivos, que estavam estimulando a indústria. A maioria dos executivos indicava, ontem, que o juro poderia ser cortado em meio ponto. Alguns, mais otimistas, chegaram a especular em torno de 0,75 ponto percentual. A manutenção da taxa acabou frustando todas as expectativas.

Miopia

O presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Rodrigo da Rocha Loures, afirmou que a manutenção da taxa Selic em 16,5% ao ano, anunciada ontem, impede que haja a esperada retomada do crescimento econômico do País. “Infelizmente continuamos prisioneiros da miopia do Copom, que não enxerga a estabilidade econômica por um ângulo que não seja o da política de juros altos”, disse Rocha Loures.

Para o presidente da Fiep, a manutenção da Selic em patamares ainda tão altos prejudica o setor produtivo de várias formas. Ele cita como exemplo a interferência que o juro tem no câmbio e as dificuldades que esta visão da política monetária cria para as exportações brasileiras.

“Com o juro alto, o real se mantém artificialmente valorizado, facilitando a entrada de capital especulativo no País. Isso gera insegurança e reduz a competitividade do Brasil no exterior”, disse. Segundo Rocha Loures, o mundo pede a redução dos juros e, mesmo assim, o Copom insiste em manter taxas elevadas. “Isto está sufocando a economia brasileira”, avaliou.

Quem também esperava por redução de juros eram as centrais sindicais, intimamente ligadas ao PT. Tanto a CUT quanto a CGT reivindicavam que o Copom tinha que se render à realidade e reduzir os juros, para criar mercado para a indústria, o comércio, e gerar empregos. O presidente da Força, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, chamou ontem de “vergonhosa” a decisão do Copom de manter a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 16,5% ao ano. Segundo ele, a decisão vai “emperrar o espetáculo do crescimento”.

A próxima reunião do Copom está marcada para os dias 17 e 18 de fevereiro.

Risco Brasil recua 3,41% e C-Bond valoriza

O risco Brasil, que mede a desconfiança do investidor estrangeiro na economia do país, caiu 3,41%, aos 424 pontos, segundo dados da CMA, empresa de sistemas e informação financeira.

Já o C-Bond, principal papel da dívida brasileira renegociada, subiu 0,99%, cotado a 100,125% do valor de face. O recorde do papel foi atingido no último dia 9, quando encerrou a 100,812% do valor de face, segundo a CMA.

O menor risco-país do ano foi de 393 pontos, alcançado durante os negócios no último dia 13. Mas nesse dia acabou fechando em 409 pontos. Mas o menor risco no fechamento da CMA é de 407 pontos, registrado no dia 9.

Mercado

O dólar fechou ontem em alta de 0,21%, cotado a R$ 2,843 na compra e R$ 2,845 na venda. A leve valorização teve o incentivo de mais um leilão de compra do Banco Central, que enxugou o excesso de oferta, gerado pela entrada de recursos externos ao país. A quarta-feira foi tranqüila no mercado de câmbio, apesar do clima de expectativa em torno da definição dos juros básicos da economia. O C-Bond voltou a subir e no final da tarde valia 100,18% do seu valor de face, com alta de 0,93%.

O Depósito Interfinanceiro (DI) de fevereiro, que projeta os juros deste mês, fechou em 15,85% ao ano, praticamente estável frente aos 15,84% do fechamento de anteontem.

O DI de julho, o mais negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), subiu de 15,29% para 15,40%. O vencimento de janeiro de 2005 projetou no último negócio taxa anual de 15,20% anuais, ante os 15,16% do fechamento anterior.

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