Copom prevê crescimento mais lento da economia

O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) prevê que a economia brasileira cresça em um ritmo menor no primeiro trimestre deste ano se comparado ao do quarto trimestre de 2003. A previsão consta da ata da reunião do Copom da semana passada, que foi divulgada ontem. Na reunião, o comitê decidiu reduzir a taxa básica de juros da economia brasileira (Selic) de 16,5% para 16,25% ao ano.

Segundo a ata, o Copom entende que o processo de recuperação da economia brasileira começou no segundo semestre do ano passado, embora em todo o ano de 2003 o PIB (Produto Interno Bruto, soma das riquezas produzidas por um país) tenha encolhido 0,2%.

O Copom acredita que após o crescimento de 1,5% no quarto trimestre em relação ao anterior – o que representa uma taxa de expansão anualizada de 6% – a economia continuará a se aquecer. Porém, em um ritmo mais moderado.

“Os indicadores disponíveis até o momento sugerem que a trajetória de crescimento da economia foi sustentada neste início de ano. Naturalmente, em função do crescimento expressivo no último trimestre de 2003, é provável que o dados referentes ao PIB do primeiro trimestre de 2004 indiquem algum arrefecimento cíclico de atividade”, diz a ata.

Para sustentar a análise, o Copom afirma que a produção industrial já vem crescendo a taxas inferiores às registradas no último trimestre de 2003. Para fevereiro, o BC não descarta nem mesmo que a produção industrial encolha.

“Não seria possível descartar uma queda da produção industrial (em fevereiro), que é perfeitamente compatível com um padrão usual de recuperação sustentada da atividade com oscilações de curto prazo em torno da tendência de crescimento.” Explicaria a menor produção industrial, segundo o Copom, a provável queda no consumo de bens duráveis, como automóveis, móveis e eletrodomésticos, em janeiro e fevereiro. Esses segmentos vinham sustentando o crescimento nos últimos meses.

Entretanto, agora a expansão já estaria se espalhando para o setor de bens não-duráveis (como alimentos), que, de acordo com o Copom, “era o único a não apresentar recuperação”.

Inflação

Apesar de ainda enxergar riscos, o Copom acredita que a possibilidade de descumprimento da meta de inflação de 5,5% estabelecida para este ano diminuiu em março. Segundo a ata, dois fatores geram incertezas, ainda que de “breve resolução”, para a condução da política monetária: a alta dos preços no atacado e o impacto das mudanças da Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social).

Os diretores do BC entendem que a elevação dos preços no atacado – apontada por diversos índices de inflação divulgados nas últimas semanas – foi gerada pelo aumento do preço de commodities no mercado internacional. Não se sabe, entretanto, se haverá repasse para os preços no varejo, contaminando o IPCA (índice que serve de base para as metas de inflação).

Já a mudança da Cofins -que deixou de ser cumulativa (cobrada em todas as fases da produção), mas teve sua alíquota elevada de 3% para 7,6% – “pode” ter, segundo o Copom, um efeito “pequeno” apesar das ameaças de diversos setores da economia de repassar aumentos de carga tributária para os preços.

Além disso, o Copom acredita na manutenção “do cenário externo bastante favorável, com perspectiva de crescimento da economia mundial e alta liquidez internacional”. Ou seja, um cenário sem pressões sobre o dólar e repasses de variação cambial para os preços.

Por isso, a maioria dos diretores do BC entendeu que havia condições de retomar a trajetória de queda dos juros em março, após a manutenção da taxa básica em 16,5% em janeiro e fevereiro. No entanto, a ata lembra que três dos nove diretores do BC que participam das reuniões do Copom votaram pela manutenção da Selic.

O Copom elevou a estimativa de reajuste de preços de energia elétrica residencial neste ano de 6,3% para 6,9%. Porém, foram mantidas as projeções de alta da gasolina (9,5%), gás de cozinha (10%) e telefonia (6,8%).

BC descarta choque de oferta

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse que a ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem, traz boa mensagem ao mercado, pois, segundo ele, expressa que a flexibilização das metas de inflação com os choques de oferta é um tipo de abordagem que foi adotada no passado, mas que não há, no momento atual, uma realidade que possibilite o uso dessa estratégia.

“Determinada magnitude de choques justifica um segundo arcabouço de metas de inflação que se possa fazer um mecanismo de absorção mais prolongada”, explicou Meirelles. Por outro lado, lembrou que a ata deixa muito clara a mensagem de que este não é momento para se pensar nessa estratégia, uma vez que não existiram choques de magnitude que justificassem o tipo de medida que se tomou no passado.

Meirelles acrescentou que a redução dos juros é um objetivo que está sendo trabalhado pelo governo. De acordo com ele, durante a audiência de hoje na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, pretende deixar claro que os juros reais tem caído “consistentemente”.

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