O Copom (Comitê de Política Monetária, do Banco Central) decidiu atender às expectativas do mercado e fez, ontem, uma tímida redução de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros da economia brasileira (Selic). Os juros caíram de 16,25% para 16% ao ano, a menor taxa desde abril de 2001.
A decisão já era amplamente esperada pelo mercado. Em março, o BC também havia cortado a taxa em 0,25 ponto percentual e justificou a timidez da redução com a necessidade de permanecer atento ao comportamento da inflação.
No entanto, o leve corte nos juros não deve poupar o BC de novas críticas de empresários, sindicalistas e até mesmo políticos do PT e da base de apoio ao governo.
O descontentamento de diversos segmentos da sociedade com o BC deve-se ao enfraquecimento da atividade econômica no primeiro trimestre. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a produção industrial caiu 1,8% em fevereiro na comparação com janeiro e completou três meses seguidos em queda.
Já a taxa de desemprego cresceu de 11,7% para 12% entre janeiro e fevereiro e colaborou para a recente queda nas taxas de aprovação do governo Lula.
O BC entende, entretanto, que, após o crescimento de 1,5% da economia no último trimestre de 2003, seria normal um ritmo de expansão mais lento nos três primeiros meses deste ano. A previsão do banco é de uma alta do PIB (Produto Interno Bruto) próxima a 0,8% ou 0,9% no período.
No entanto, empresários também devem criticar o BC devido aos recentes números de inflação, que poderiam inspirar um corte mais ousado nos juros. Segundo a Fipe, a inflação na cidade de São Paulo caiu de 0,12% em março para 0,06% nos 30 dias terminados em 7 de abril, o que representa a menor taxa dos últimos oito meses.
Já o IPCA (índice nacional de inflação que serve de base para as metas) caiu de 0,61% em fevereiro para 0,47% em março.
A alta dos preços acumulada no primeiro trimestre atingiu 1,85%, o que representa um terço da meta de inflação para este ano, que é de 5,5%. Por isso, o espaço para a queda dos juros seria mesmo pequeno.
A decisão foi por unanimidade. Na nota em que explica o corte, o Copom diz que se baseou na “trajetória da inflação” para fazer o corte.
Agora o Copom só volta a se reunir em 18 e 19 de maio para decidir possíveis alterações na Selic.
BC não promove o crescimento
Para o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, é um erro cobrar do BC um desempenho melhor da economia. Segundo ele, a autoridade monetária não tem o papel de promover o crescimento. Nesse sentido, a contribuição do BC é garantir a estabilidade da moeda e o controle da inflação, eliminando fatores que atrapalhem o desenvolvimento.
O presidente do BC disse estar convicto que a economia está nos trilhos do crescimento desde o terceiro trimestre do ano passado. Ele admitiu, entretanto, que os números dos três primeiros meses do ano não deverão corresponder às expectativas positivas para o período.
Na avaliação de Meirel-les, o resultado do trimestre mostrará um arrefecimento no ritmo de crescimento da economia em relação ao quarto trimestre de 2003. Esse comportamento, entretanto, não compromete a previsão de crescimento de 3,5% para este ano. A avaliação do presidente do BC é que a economia teve um desempenho bom em janeiro, mas, em fevereiro, houve uma queda forte e, no mês passado, voltou a acelerar.