Rio – O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central, decidiu não surpreender o mercado e manteve, ontem, a taxa de juros Selic (taxa básica da economia) em 18% ao ano. Porém, ao contrário das reuniões anteriores, desta vez deixou aberta a possibilidade de mudança no transcorrer do mês, adotando “viés de baixa”. Com novo viés, a taxa pode ser reduzida -ou aumentada, o que quase ninguém acredita – antes da próxima reunião do Copom. Para o consumidor, a decisão não deve ter impacto no crédito das taxas de juros pagas aos bancos, financeiras, lojas com vendas a prazo e outras modalidades.
Segundo Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), o consumidor não deve esperar mudanças. “O crédito vem crescendo menos, os bancos estão mais seletivos, e não se deve observar mudanças até as eleições”, afirma.
A decisão era amplamente esperada pela maioria dos analistas de mercado, que acreditava que o nervosismo dos últimos dias e a alta do dólar já seriam motivos suficientes para a manutenção da taxa. Em julho, o BC havia reduzido a taxa de juros de 18,5% ao ano, para 18% ao ano, surpreendendo os economistas que também apostavam na manutenção ou em uma pequena queda de 0,25 ponto percentual.
A decisão do Copom sempre leva em conta as previsões para inflação no ano. Até julho, o IPCA acumulado de 2002 era de 4,17%. A meta oficial do governo para este ano é de uma inflação de 3,5%, com intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo.
No acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), no entanto, as metas estão mais flexíveis e o centro é de 6,5%, com intervalo de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Ou seja, pelo acordo, a inflação poderia até mesmo atingir o limite máximo de 9% neste ano.
A ata da reunião do Copom será divulgada na próxima quarta-feira (28), às 13h30, quando serão conhecidas detalhadamente as razões pelas quais o BC manteve a taxa em 18% ao ano.
Bom sinal
O economista-chefe do banco Inter American Express, Marcelo Alain, vê como um bom sinal para o investidor a colocação do viés de baixa. De fato, segundo ele, isso poderia sugerir que o posicionamento em fundos de renda fixa prefixada seria uma boa opção, mas ele alerta que essa seria uma aposta arriscada e esse não é o momento para isso.
“Essas carteiras são formadas por papéis contabilizados pelas taxas de juros futuros, que costumam apresentar forte oscilação normalmente. Com tantas incertezas em relação ao cenário político e à condução da política econômica no próximo ano, essa oscilação pode ser ainda maior. Ou seja, o risco é muito grande e o investidor deve optar pelas carteiras com juros pós-fixados, os fundos referenciados DI”, recomenda Alain.
Ata acentua “incertezas”
O Copom do Banco Central justificou a manutenção da taxa de juros Selic em 18% ao ano pelas “incertezas na economia??.
Apesar disso, o BC avaliou que há perspectivas de melhora e, por isso, decidiu adotar o viés de baixa, o que significa que o presidente do BC pode, antes mesmo da próxima reunião do Copom (marcada para os dias 17 e 18 de setembro), reduzir a taxa de juros.
“As incertezas na economia aumentaram desde a última reunião do Copom. Entretanto, fatos recentes reforçam a perspectiva de melhoria no cenário, confirmando-se a previsão de inflação para 2003 abaixo da meta. Diante disso, o Copom decidiu, por unanimidade, manter a taxa Selic em 18% ao ano, com viés de baixa??, diz a nota divulgada ao final da reunião do Copom.
A meta de inflação para 2003 é de 4%, com intervalo de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
Viés surpreende
A maioria dos analistas esperava que o Copom decidisse manter a taxa básica de juros, a Selic, em 18% ao ano. Mas a definição do viés de baixa, que permite a redução dos juros antes da próxima reunião do comitê, nos dias 17 e 18 de setembro, não era esperada pelos investidores.
O economista-chefe do banco Inter American Express, Marcelo Alain, acredita que são poucas as chances de que o viés seja utilizado e, mesmo que isso ocorra, o corte na taxa de juros não deve acontecer antes de três semanas.
Para o economista da Fator Administração de Recursos Rodrigo Octávio Marques, enquanto a manutenção dos juros demonstra uma atitude conservadora do BC, a colocação do viés sinaliza que a instituição quer coordenar a expectativa dos investidores.