O Copom (Comitê de Política Monetária do BC) decidiu ontem elevar pela quinta vez consecutiva a taxa básica de juros da economia. O índice adotado – 0,50 ponto percentual – eleva a Selic de 17,75% para 18,25% ao ano, e não surpreende o mercado, que ainda ontem especulava que o ajuste poderia ser maior. Não foi adotado viés. Ou seja, a taxa não será alterada antes da reunião de fevereiro.
O Banco Central ainda não viu sinais suficientes de que os preços ficarão sob controle para que se cumpra a meta de inflação de 2005 e resolveu manter a política de aperto monetário. A decisão de ontem, embora já esperada pelo mercado, deve aumentar as queixas entre integrantes do primeiro escalão do governo Lula.
Na semana passada, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) disse que o aumento dos juros não era suficiente para conter a inflação causada pelos preços administrados, como tarifas de luz e energia.
A autoridade monetária eleva o juro para deixar o crédito mais caro e conter o consumo. Assim, assegura a estabilidade e evita que a inflação saia do controle.
Para este ano, a meta de inflação oficial do governo é de 4,5% do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado), com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro que irá perseguir uma inflação de 5,1%. Ainda assim, as expectativas do mercado apontam para um IPCA de 5,7% para 2005.
No ano passado, a inflação foi de 7,6%, pouco abaixo da banda superior da meta, que era de 5,5%, também com o intervalo de 2,5 pontos. O rigor do BC deve continuar enquanto as expectativas não se converterem para o objetivo.
A autoridade monetária teme que a recuperação econômica cause reajuste nos preços por parte da indústria. O PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,3% entre janeiro e setembro do ano passado na comparação com o mesmo período de 2003.
A cautela do governo vem do temor da falta de investimentos – se eles não forem feitos no nível necessário, é possível uma crise de demanda, o que pressionaria ainda mais os preços. No entanto, os indicadores do IBGE mostram que os investimentos estão em crescimento.
Trégua
A partir de fevereiro, no entanto, é esperado que o BC dê uma trégua no movimento de aumento das taxas de juros. Ao menos essa é a previsão dos analistas financeiros consultados semanalmente pelo BC.
Um dos fatores de preocupação da autoridade monetária brasileira é a elevação da taxa de juros nos EUA, que está em 2,25% ao ano.
Com rendimento maior, os títulos do governo norte-americano – considerados as aplicações financeiras mais seguras do mundo, com risco próximo de zero – atraem investimentos que, em tese, se sujeitariam a riscos maiores, como ações, dívidas públicas e privadas e o câmbio de moedas. Com isso, sobra menos dinheiro para investimentos em títulos de mercados emergentes, como o Brasil, considerado de risco alto.
No entanto, ontem foi divulgado que a inflação ao consumidor nos EUA caiu 0,1% em dezembro. Com os preços sob controle, o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) não será forçado a elevar os juros de forma agressiva, o que é positivo para o Brasil.
A justificativa para a decisão adotada na reunião de ontem será conhecida no dia 26, quando será divulgada a ata do encontro.
Críticas de todos os lados
O presidente da Abiesv (Associação Brasileira da Indústria de Equipamentos e Serviços para o Varejo), Marcos Andrade, disse ontem que a decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central de promover novo aumento da taxa básica de juros contraria a sociedade brasileira "que compra e que vende".
Para o empresário, a alta da Selic certamente forçará uma retração da atividade industrial e do varejo em 2005, contrariando as previsões mais otimistas.
O presidente da Fiesp, empresário Paulo Skaf, considerou que a decisão do Copom "com certeza, terá impacto negativo nos setores produtivos. O Copom perdeu excelente oportunidade de estimular a economia e renovar o ânimo de quem produz e trabalha no sentido de fazer de 2005 um ano bom para a economia".
Segundo ele, "mais uma vez, o governo abre mão da decisão correta, para insistir na mesmice dos juros. Temos defendido o aumento da produção e a redução dos gastos públicos como estratégias de combate à inflação".
A Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) considera que a alta da Selic "e a perspectiva de sua manutenção em patamares elevados por um longo período prejudicam a continuidade do crescimento econômico e inibem o ciclo de investimento que se inicia no País".
Para o presidente da Abigraf, Mário Cesar Camargo, a decisão do governo Lula "retira mais dinheiro da produção".