Copom eleva juros básicos da economia para 12,75% ao ano

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central aumentou nesta quarta-feira, 4, os juros básicos da economia (Selic) de 12,25% para 12,75% ao ano. Com essa decisão, amplamente esperada por economistas do mercado financeiro, a taxa volta ao mesmo nível de seis anos atrás, quando o mundo ainda absorvia os primeiros efeitos da crise financeira internacional iniciada em 2008.

A elevação dos juros, decidida de forma unânime pelo colegiado, foi a quarta consecutiva. A primeira, logo após a eleição presidencial de outubro de 2014, surpreendeu os agentes econômicos. Na ocasião, a Selic subiu de 11% para 11,25% ao ano. Nas duas reuniões seguintes, foram promovidos aumentos como o de hoje, de meio ponto. Por enquanto, a projeção do mercado é de um novo avanço, para 13% ao ano, na reunião de abril – nível que tende a permanecer até o início de 2016.

Com alguns episódios avaliados como negativos desde então em relação à comunicação da autoridade monetária, os diretores do BC optaram hoje pela mesma fórmula da reunião de janeiro: divulgaram um comunicado enxuto sobre a decisão. Dessa forma, os detalhes dos motivos que levaram à decisão só serão conhecidos na ata da reunião, a ser divulgada daqui a uma semana. O próximo encontro do Copom está previsto para o fim de abril.

A elevação da Selic ocorre em um momento delicado para o País. O governo passa por dificuldades no Congresso e há, a cada dia, desdobramentos econômicos das denúncias de corrupção da operação Lava Jato, que pode atingir bancos e que já começa a mostrar impacto sobre a economia, em especial sobre investimentos. Por sinal, as projeções de economistas do setor privado para a atividade estão piores, com a aposta atual de uma retração de 0,6% para 2015.

Risco

Também estão em visita ao Brasil técnicos de agências de classificação de risco para verificarem se o País continua com o selo de bom pagador ou se sofrerá rebaixamento. O tema é caro ao governo. Principalmente, depois que a Petrobras, a maior empresa nacional perdeu o status na semana passada.

Não bastasse esse cenário negativo, o mercado financeiro está totalmente descrente de que o BC consiga entregar a inflação na meta. Pior do que isso: nem o teto de 6,5% será possível, de acordo com os economistas, que projetam o IPCA de 2015 já em 7,5%. A inflação deste ano já tem todos os ingredientes para se tornar a maior em uma década. Isso sem falar na escalada do dólar, que já toca os R$ 3. Mais uma pressão de alta para a inflação.

O presidente do BC, Alexandre Tombini, tem alertado que não seria surpresa se os preços continuassem a subir nos primeiros meses deste ano. A avaliação, porém, leva em conta uma desaceleração ao longo de 2015 e que culminaria na entrega da meta de 4,5% no ano que vem. Recentemente, o mercado até tem diminuído suas estimativas para o IPCA dos próximos anos, mas elas seguem acima do centro da meta.

O Ministério da Fazenda promete ajudar o trabalho do Copom ao economizar 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB) no final deste ano, o que faria com que a política fiscal se desviasse de uma tendência expansionista para neutra, podendo até já dar sinais de contracionismo, nas palavras do BC. Até que essa garantia seja efetivada, no entanto, a autoridade monetária tem tido de lidar com a pressão dos preços, principalmente dos monitorados e administrados pelo próprio governo.

Curioso é que o BC aumentou o juro no mesmo ritmo que vinha trilhando, apesar das mudanças já anunciadas – mas ainda não efetivadas – na diretoria. É que os nomes indicados por Tombini ainda precisam receber o aval do Senado por meio de uma sabatina, que ainda não tem data para ocorrer. O então diretor de Política Econômica, Carlos Hamilton, tido como um dos mais conservadores em sua atuação, saiu do colegiado. O membro mais “hawkish” (duro, no jargão econômico) do Copom foi substituído justamente pelo mais “dovish” (ameno), Luiz Awazu Pereira da Silva. Os dois estiveram em lados opostos em momentos em que as decisões do Comitê não foram consensuais.

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