Desta vez, a expectativa do mercado financeiro para a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), que será realizada entre hoje e amanhã, é unânime: os juros básicos devem continuar em 16% anuais, segundo analistas.
Muitos economistas afirmam que os juros devem cair apenas um ponto percentual até dezembro e encerrar 2004 em 15% ao ano. Novos cortes, para boa parte dos analistas de bancos e corretoras, só devem ocorrer a partir de agosto ou setembro, quando deverão estar mais claros os cenários internacional e doméstico.
A possível decisão de manter a Selic não deve causar grande impacto pelo fato de já ser esperada, segundo analistas. “É a confirmação de um consenso de mercado”, diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC. Pesquisa realizada na semana passada entre analistas econômicos mostrava que 70% acreditavam em manutenção dos juros, 20% em alta e apenas 10% em queda.
“A expectativa, por enquanto, é de manutenção. Se baixar, o dólar poderá continuar subindo”, aponta o analista de investimento Marcelo Martenetz, da SM Consultoria Econômica. “O fato de o Banco Central não reduzir os juros estará mostrando que o governo não está sendo populista. Isso deverá atrair mais investimentos para o País”, acredita. Martenetz faz coro com outros analistas econômicos e acredita que a Selic deve encerrar o ano em 15%. “A melhor maneira de baixar os juros é realizando mais uma rodada de reformas”, diz, acrescentando que “os juros não são causa do desemprego, mas a conseqüência de o governo gastar um absurdo.”
Juros não caem
Apesar de a taxa Selic estar na casa dos 16%, o consumidor não sente a redução quando vai parcelar um veículo novo, por exemplo, ou fazer um empréstimo no banco. “A taxa de juros sobe de acordo com o custo (Selic), mas só reduz pela competição entre bancos ou comércio”, afirma Marcelo Martenetz. Créditos mais baratos de carros novos, afirma, variam entre 2,5% e 4,5% de juros ao mês, o que resulta entre 30% e 50% de juros ao ano. Martenetz lembra que a taxa de juros afeta principalmente a aplicação do dinheiro, com rendimento maior ou menor. “Se houver uma queda de 0,25 pontos percentuais, por exemplo, fica um pouco mais barato para o empresário emprestar dinheiro e viabilizar projetos que estão na gaveta.”
Expectativa
A inflação corrente está um pouco mais alta, e a expectativa subiu no último mês tanto para o curto prazo como para 2004 e para 2005. A previsão do IPCA – que baliza a política monetária – cresceu para 6,59% neste ano e está em 5,37% para 2005.
As incertezas no cenário externo e a volatilidade dos mercados – que levaram o BC a não mexer na taxa de juros no mês passado – continuam presentes. O risco-País e o câmbio mudaram de patamar e ainda oscilam muito. Os preços do petróleo ainda não se acomodaram claramente.
No mercado futuro, nos juros mais longos, a partir de outubro, há até prêmio de risco maior para possibilidade de alta no futuro. Os contratos são negociados acima de 16%, o que embute possibilidade de alta da taxa Selic.
“O que se discute é qual a probabilidade de o BC vir a ser forçado a elevar taxas de juros ao longo do tempo”, afirma Bassoli.