São Paulo – O Comitê de Política Monetária (Copom) se reúne amanhã e na quarta-feira pela primeira vez no governo do PT, com o Banco Central (BC) sob o comando de Henrique Meirelles. A expectativa da maior parte dos analistas é de que os juros básicos sejam mantidos em 25% ao ano, uma vez que o câmbio e o risco país recuaram desde o último encontro da instituição e a inflação tem perdido fôlego.
Alguns analistas, no entanto, ainda defendem mais um aumento da Selic, por entender que os índices de preços e as expectativas de inflação do mercado continuam em níveis elevados. E, para alguns, o Copom deve elevar a Selic também para que o novo presidente do BC estabeleça desde já uma reputação de austeridade na condução da política monetária. Há ainda quem defenda um corte dos juros, mas essa é uma posição minoritária entre os analistas.
O recente recuo do dólar é um dos principais motivos que levam muitos economistas a acreditar na manutenção da Selic. A moeda, que estava em R$ 3,60 na reunião de dezembro do Copom, oscilou boa parte deste mês na casa de R$ 3,30, apesar de ter fechado ontem a R$ 3,40, por causa da tensão no cenário externo.
O economista-chefe da LCA Consultores, Luís Suzigan, defende a manutenção da Selic. Além do recuo do dólar, ele ressalta que a inflação está em queda. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE, escolhido para o regime de metas inflacionárias, ficou em 2,1% em dezembro, ante 3,02% em novembro, enquanto primeira prévia de janeiro do IGP-M da FGV ficou em 1,34%, bem abaixo dos 2,61% registrados no mesmo período de dezembro.
O analista Antonio Madeira, da MCM Consultores Associados, por sua vez, defende um aumento de até um ponto porcentual da Selic. Para ele, os índices de preços continuam em níveis muito elevados, assim com as expectativas de inflação do mercado coletadas semanalmente pelo BC, que apontam um IPCA de 11,23% neste ano. Além disso, Madeira diz que, mesmo com o recuo do câmbio, a inflação projetada pelo modelo do BC deve continuar bastante alta.
Credibilidade
Já os economistas Marcelo Carvalho e Marcelo Portilho, do Bank of América, dizem que, além haver um motivo técnico para elevar os juros – a inflação projetada está acima da meta -, há um motivo estratégico para aumentar a Selic em um ponto: a necessidade de o BC conquistar credibilidade. Como houve uma mudança no comando da instituição, seria importante indicar para os agentes econômicos que a nova gestão não teme apertar a política monetária.
Para José Augusto Savasini, sócio da Rosenberg & Associados, cortar os juros neste momento seria uma temeridade. O Copom só deve reduzir a Selic quando o IPCA cair para a casa de 1%, afirma ele. Se de um lado os preços no atacado e os agrícolas estão em queda, favorecidos pelo recuo do dólar, os preços do setor industrial ainda preocupam. “Não dá para cortar os juros de jeito nenhum”, diz ele, acreditando que a Selic deve continuar em 25% ao ano por mais três ou quatro meses.