Com a perspectiva de que a inflação deve ser a maior em uma década e um cenário cada vez mais claro de estagnação econômica em 2015, o Comitê de Política Monetária (Copom) aumentou nesta quarta-feira, 21, a Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12,25% ao ano. A terceira elevação consecutiva dos juros pelo Banco Central se dá logo depois de um anúncio de alta da carga tributária e faz com que a taxa atinja o maior nível desde julho de 2011, quando estava em 12,50% ao ano. A decisão foi tomada de forma unânime por todos os membros do Copom. O comunicado de hoje, que se seguiu à decisão, foi um dos mais enxutos dos últimos tempos.

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A decisão do Copom foi tomada dois dias depois que o Ministério da Fazenda aumentou impostos de importação, de crédito, para o setor de cosméticos e para os combustíveis. As medidas podem ser um agravante para a já esperada estagnação da economia este ano. Mais cedo, na Suíça, o titular da pasta, Joaquim Levy, disse que o Brasil poderá registrar um Produto Interno Bruto (PIB) negativo em algum dos trimestres de 2015 e que o desempenho da economia brasileira estaria próximo a zero.

Apesar disso, as ações foram bem recebidas pelo mercado porque significariam maior austeridade do governo, ajudam na eficácia da política monetária e auxiliaram até na valorização do real, o que é um problema a menos para a inflação que o BC promete controlar. A questão é que, ao mesmo tempo, esse aumento da carga gera outras pressões sobre os preços, principalmente os administrados pelo governo, que já estão mais sobrecarregados este ano.

O BC vem alertando desde o final do ano passado que a inflação do começo de 2015 será elevada – no relatório de mercado Focus, a projeção para o IPCA de janeiro, por exemplo, está em 1,10%. O presidente da instituição, Alexandre Tombini, porém, afirma que entregará a inflação na meta de 4,5% no encerramento de 2016, num processo de desaceleração que começaria ainda este ano.

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Acima do teto

Depois do anúncio de mais impostos na segunda-feira, no entanto, as estimativas para a inflação deste ano subiram e já indicam que o IPCA vai romper o limite superior de tolerância de 6,50%. É crescente o cálculo de uma taxa acima de 7%, o que seria a maior desde 2004, quando ficou em 7,60%. O discurso da instituição, no entanto, é de que ao longo do ano haverá um enfraquecimento das taxas a ponto de permitir que o BC entregue a inflação no centro da meta de 4,5% em 2016.

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As incertezas internacionais também formaram um cenário de fundo para a decisão da diretoria do BC. Há expectativa de que o Banco Central Europeu (BCE) adote em breve um relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) já testado pelos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, o preço do petróleo está cada vez mais baixo e o franco suíço acumula uma valorização de quase 40% em uma semana. Para discutir as transformações econômicas globais de perto e levar uma mensagem de confiança sobre o Brasil aos investidores internacionais, o presidente do BC, Alexandre Tombini, embarca para a Suíça e se junta a Levy para participar do Fórum Econômico Mundial de Davos.

Comunicação

Depois de dois episódios seguidos de má comunicação entre BC e mercado financeiro, desta vez o colegiado fez exatamente o que aguardavam os economistas do setor privado: aumentou a taxa básica de juros em 0,50 ponto porcentual. Três dias depois da eleição presidencial, em outubro, o BC surpreendeu os analistas ao elevar a Selic para 11,25% – a taxa estava estacionada em 11% desde abril. Já em dezembro, a dose de alta foi maior, mas do tamanho esperado. O toque inesperado ficou por conta do comunicado que se seguiu à decisão e trouxe o recado de que o BC agiria com “parcimônia”. A expressão deixou os agentes econômicos confusos e virou polêmica.

A expectativa é de que na quinta-feira da semana que vem a ata da reunião de hoje aprofunde os motivos que levaram o colegiado a tomar essa decisão. As informações são necessárias para que economistas comecem a trabalhar em seu cenário para o encontro de março, marcado para os dias 3 e 4. Afinal, há ainda muita diferença nas expectativas para o nível da Selic no fim do ano. O consenso aponta para 12,50% ao ano, mas tem crescido a corrente dos que apostam na marca de 13%.