O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central agiu exatamente como o mercado esperava: reduziu a taxa de juros Selic em dois pontos percentuais, fixando-a em 20% ao ano. Essa é a taxa que ficará em vigor até o dia 22 de outubro, data da próxima reunião do Copom e é a menor taxa desde outubro de 2002, quando a taxa Selic estava em 18% ao ano.
Esse corte era esperado pelo mercado financeiro, que acreditava na continuidade da política gradualista do BC. Mas havia quem apostasse que o Copom não seria “tão ousado”, repetindo quase o mesmo percentual adotado na última redução.
Desde junho deste ano, o Copom iniciou o movimento de redução dos juros. Em junho, o corte foi de 0,5 ponto percentual; em julho, de 1,5 ponto percentual; e em agosto, de 2,5 pontos percentuais.
O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado no ano está em 7,22%. O mercado financeiro está projetando uma inflação neste ano de 9,61%.
No entanto, para 2004, as expectativas giram em torno de 6,20%, valor dentro dos limites de variação da meta de inflação fixada para o próximo ano, que é de 5,5% com intervalo de variação de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo.
As razões para a decisão do Copom serão conhecidas na quinta-feira da próxima semana, quando o BC divulgará a ata da reunião.
O comunicado do BC, divulgado ontem no final da tarde, diz o seguinte: “Dadas as perspectivas favoráveis para a trajetória futura da inflação, o Copom decidiu por unanimidade, dar continuidade à flexibilização da política monetária e fixar a taxa Selic em 20% ao ano, sem viés.” Isto significa que a taxa não poderá ser modificada no transcorrer do percurso até a próxima reunião, em 22 de outubro.
Mercado operou em compasso de espera
O dólar fechou praticamente estável, com ligeira baixa de 0,10%. No fim do dia, US$ 1 custava R$ 2,91. Os negócios foram fracos. Os investidores preferiram aguardar a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) sobre os juros, que só foi divulgada no final da tarde, depois do fechamento dos mercados.
No mercado internacional, os sinais foram positivos. O C-Bond, o principal título da dívida externa, chegou a negociado próximo do seu recorde histórico (US$ 0,9285), com alta de 0,47%, cotado a US$ 0,925. Já o risco-País, medido pelo banco americano JP Morgan, recuou aos 657 pontos, o menor nível em três anos e meio.
Apesar da leve queda do dólar, os bancos esperam uma valorização da moeda americana nos próximos meses.
A Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) consultou 58 instituições e descobriu que o dólar deve estar em torno de R$ 3,13 em dezembro.
No entanto, há quem projete a moeda em R$ 3,00 no fim do ano, considerando um cenário de renovação do acordo do Brasil com o FMI, de aprovação final da reforma da Previdência e de uma melhora da avaliação de risco do País.
Bolsa
O principal índice da Bovespa fechou na máxima do dia, refletindo a aposta do mercado de que o Copom (Comitê de Política Monetária) anunciaria um corte agressivo dos juros.
Na reta final dos negócios, o Ibovespa acelerou a alta e encerrou com valorização de 1,37%, aos 16.492 pontos, maior nível desde março de 2001. O volume financeiro também aumentou nas últimas horas do pregão, somando quase R$ 890 milhões.
Neste mês, até ontem, os fundos de ações já captaram R$ 216 milhões. Mas no ano, os saques ainda superam os depósitos em R$ 660 milhões, segundo o site especializado Fortuna.
Redução demora chegar ao consumidor
Que o corte de 2 pontos percentuais na Selic é uma sinalização positiva para o reaquecimento da economia brasileira, todos concordam. A pergunta que fica no ar é: quando isso vai chegar no bolso do consumidor? Embora o percentual de redução da taxa de juros pareça expressivo, o impacto no crediário não costuma ser imediato. A última queda de 2,5% na Selic representou apenas 0,09% nas taxas de financiamento, segundo levantamento da Associação Comercial do Paraná (ACP). “É cada vez mais urgente a adoção de medidas que possibilitem que essas reduções sejam repassadas integralmente ao consumidor”, clama o presidente da ACP, Marcos Domakoski.
“Essa queda pode mexer um pouco no crediário de balcão de loja, mas você não vai ver remarcações extraordinárias para baixo de mensalidades do crediário”, concorda o presidente do Conselho Regional de Economia do Paraná (Corecon/PR), Norberto Ortigara. “A redução de juros é muito pequena, mas anima o Brasil voltar a produzir”, diz ele, ressaltando que o custo do dinheiro para o consumidor não terá alteração significativa, já que depende de outros fatores, como o alto índice de inadimplência, o risco implícito no negócio e a alíquota alta dos depósitos compulsórios.
Mesma opinião tem o presidente da Federação das Associações Comerciais, Industriais e Agrícolas do Paraná, empresário Jeferson Nogarol-li: “O reflexo para o consumidor é lento e gradual, porque a construção do custo financeiro envolve outros componentes”. Para ele, a linha de crédito anunciada ontem pelo governo federal para estimular a compra de eletrodomésticos favorecem mais o consumidor do que o corte na Selic. “O financiamento para a linha branca é inteligente, porque toda a margem de lucro que ficava na mão do sistema financeiro vai ficar na mão do consumidor, e conseqüentemente, a indústria e o comércio vão vender mais, aumentando a arrecadação”.
Confirmando-se essa recuperação da economia, a confiança do empresariado e dos investidores cresce e o País deve entrar em 2004 num círculo virtuoso, aponta o presidente da Faciap. Para Nogarolli, o Copom já foi conservador demais. Se tivesse baixado a Selic em 2,5 pontos ontem, “seria um motivo de contágio positivo para o mercado”. Mesmo assim, ele cita que o País está voltando ao patamar pré-eleição. Com a reforma da Previdência, Nogarolli prevê que o risco-Brasil caia até 300 pontos e se estabilize em 2004. “O Brasil tem condições de uma redução sustentada da taxa de juros, que vai reduzir o custo de rolagem da dívida interna e externa para o governo e o empresariado.”
Na avaliação do presidente da ACP, a grande justificativa para a redução da Selic foi a necessidade de aquecer a economia. “Autorizar o crédito para desconto em folha é uma forma de baixar o risco de inadimplência e reduzir os spreads. O financiamento para a linha branca é outra forma de colocar dinheiro no mercado”, avalia Domakoski. O presidente do Corecon/PR também opina que o Copom poderia ser mais agressivo nas decisões da Selic, em função das condições macroeconômicas favoráveis. No entender de Ortigara, a taxa precisa recuar pelo menos para 15% para que o governo, além de gerar superávit primário, consiga reduzir o juro real. (Olavo Pesch)
Juro é incapaz de salvar o PIB
O corte da taxa básica do juro em 2 pontos percentuais para 20% ao ano, anunciado ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária), será insuficiente para reativar o crédito, a produção e o consumo, salvando o PIB (Produto Interno Bruto, o total de riquezas produzidas pelo país) de 2003, avaliam economistas.
A expectativa é de que a taxa de crescimento do PIB seja irrisória neste ano, ficando abaixo de 1% neste ano, refletindo a queda nas vendas das empresas em um ambiente de desemprego elevado e de renda baixa do consumidor.
“O Copom não surprendeu positivamente. No final do pregão, a Bovespa acelerou a alta apostando em uma redução maior, de 2,5 pontos percentuais. Amanhã (hoje), a Bolsa deve devolver parte dos ganhos e fechar em queda”, diz o analista da corretora Pentágono, Marcelo Ribeiro. O Ibovespa fechou ontem em alta de 1,37%.
Para a economista da consultoria Global Invest, Silvia Domit, a decisão do Copom pode ser considerada como “um café amargo”.
“Apesar de vir em sintonia com a média das expectativas do mercado, a economia real vai reagir muito pouco à essa redução, porque uma taxa de 20% ainda é muito elevada e está aquém do que seria necessário para retomada do crescimento”, diz a a analista.
Para o economista do banco BNP Paribas, Alexandre Lintz, o Copom deverá seguir com cortes na taxa nos próximos meses. Ele projeta um corte de 1,5 ponto percentual no próximo mês. A expectativa de Lintz é de que, no final do ano, a taxa Selic esteja em 17% ao ano.
“O Copom não fez um corte agressivo porque está bastante concentrado na busca do cumprimento da meta de inflação no próximo ano.”
Abit concorda com decisão do BC
O mercado esperava, mesmo, que o Banco Central fosse “condescendente”. Afinal, todos os indicadores -econômicos e políticos – permitiam prever que os juros poderiam cair acima de um ponto percentual. O próprio presidente Lula falou, anteontem, que os juros teriam queda “significativa”.
O presidente da ABIT Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção, Paulo Skaf, por exemplo, apoiou o Banco Central de cortar em 2 pontos percentuais a taxa Selic. “A redução de 2 pontos já pode ser considerada como indicativo de um novo estágio da política econômica brasileira. A percepção é de que, dominada a inflação, o governo comece agora a reconstruir as condições para o desenvolvimento sustentado do País”, disse Skaf.
Economia com o corte será de R$ 655 milhões
Brasília (ABr) – Com a redução da Selic em dois pontos percentuais, a redução na dívida pública federal em um mês será de R$ 655 milhões. Os cálculos são da Consultoria Global Invest. Além disso, desde que a taxa básica de juros começou a ser reduzida este ano, no mês de junho, até outubro o que se deixará de pagar com os juros alcança R$ 3,111 bilhões.
Segundo o analista econômico, Nélson Carneiro, a queda da Selic ajuda a incrementar o Produto Interno Bruto (PIB) e reduz a dívida pública, simultaneamente. Desse modo, a relação dívida líquida/PIB cai e a credibilidade da economia brasileira aumenta. Conforme projeções da consultoria, essa relação deve ficar no final do ano em 61%, uma vez que as projeções de crescimento da economia nacional caíram nas últimas semanas.