O presidente do BC, Henrique Meirelles.

Brasília – O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) decidiu ontem, por unanimidade, aumentar a taxa básica de juros da economia (Selic) de 25% para 25,5% ao ano, na primeira reunião no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. “Os indicadores de inflação mostram sinais de queda. No entanto, o Copom julgou que a convergência das expectativas de inflação para a trajetória das metas recomenda uma elevação na taxa Selic para 25,5% ao ano”, justificou o Copom. Trata-se da maior taxa desde maio de 1999.

Com essa decisão, Henrique Meirelles, que assumiu a presidência do BC no dia 7, deve ganhar mais credibilidade e confiança do mercado, para, num futuro próximo, retomar a trajetória de queda dos juros.

A nova taxa não tem viés, ou seja: para aumentar os juros antes da próxima reunião oficial, marcada para 18 e 19 de fevereiro, o Copom terá de convocar um encontro extraordinário. A reunião de ontem – as reuniões do Copom demoram normalmente dois dias -, presidida pelo novo presidente do BC, Henrique Meirelles, começou ao meio-dia e durou duas horas e quarenta minutos.

Em dezembro, o Copom aumentou a Selic de 22% para 25% ao ano, por causa do aumento da inflação. O comitê já havia mexido nos juros em novembro, aumentando a taxa básica de 21% para 22%, e em reunião extraordinária em outubro, quando a Selic pulou de 18% para 21%.

Reflexos

O coordenador de análises econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros, comemorou a decisão do Banco Central (BC) de elevar a taxa básica de juros da economia (Selic) para 25,5%, sem viés. Segundo Quadros, com isso o BC começou a conseguir credibilidade, embora acredite que a medida teria sido mais eficaz se a Selic fosse para 26%.

– Até agora o Banco Central vinha fazendo muitas declarações, mas não havia tido oportunidade para agir. Essa foi a primeira e considero que foi um bom começo. O importante é que o BC consiga criar uma reputação junto ao mercado – disse.

Salomão afirma que a alta de 0,5 ponto percentual é muito pequena e trará poucos efeitos práticos para o varejo e para o consumidor. O economista descarta recuo no consumo e afirma que os empresários já pagam juros muito maiores do que a Selic ao tomar empréstimos.

O diretor de tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, afirma que o Copom fez o que o mercado esperava, ao elevar os juros básicos da economia em meio ponto percentual. Para ele, os preços dos ativos já indicavam qual conduta era esperada.

O BC causou desconforto no mercado ao elevar a meta de inflação para 8,5%. Com isso, só restava a ele elevar os juros e garantir a credibilidade da política monetária. Se não fizesse isso, seria o pior dos mundos – disse ele.

Paulinho vê “continuismo”

O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, criticou a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), de elevar a taxa de juros Selic de 25% para 25,5% ao ano. Segundo ele, a primeira reunião do Copom do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) manteve a política econômica de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

“O FHC deve estar rindo e tomando vinho a essa hora. Lula está dando continuidade à política econômica de FHC, que foi tão criticada por ele durante a campanha eleitoral”, disse Paulinho.

Para o sindicalista, a elevação da taxa de juros vai agravar o desemprego e a situação econômica das empresas, o que impedirá o crescimento do país. “Lula foi eleito com uma promessa de combater tudo o que era prejudicial para o crescimento do País. Mas as primeiras decisões de seu governo contrariam sua plataforma de campanha.”

Dólar volta a subir para acima de R$ 3,50

Depois de alcançar o patamar de R$ 3,20 na última semana, o dólar voltou a ser cotado acima dos R$ 3,50, ontem, diante de um cenário externo conturbado pelas tensões entre EUA e Iraque e a instabilidade na Venezuela. No ano, a desvalorização da moeda se reduziu de 8% no último dia 10 para 0,8% ontem.

A moeda norte-americana fechou em alta de 1,01%, a R$ 3,515 para venda e R$ 3,51 para compra, cedendo da máxima do dia e maior cotação do governo Lula, R$ 3,547, com a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) de elevar para 25,5% ao ano a taxa básica de juros. Já o risco Brasil sobe 0,95% para 1.373 pontos.

O mercado recebeu bem a alta de 0,5 ponto percentual dos juros que marcou a primeira reunião do Copom sob a batuta de Henrique Meirelles, presidente do BC desde o último dia 7. Mesmo assim, o nervosismo persiste.

“O efeito psicológico [da alta de 0,5 ponto nos juros] é bom, porque o mercado estava ansioso para ver em que direção o governo vai andar. Mas, na prática, um aumento de 0,5 ponto não adianta nada”, afirmou Miriam Tavares, diretora da corretora AGK.

Mas mesmo em linha com o que queriam investidores e analistas, a decisão do Copom foi incapaz de reverter o quadro de nervosismo e aversão ao risco, que leva os investidores externos a venderem ativos em países emergentes como o Brasil e os investidores domésticos a comprar dólares, ante a expectativa por novas turbulências na economia global e da disparada nos preços do petróleo.

“O dólar, no mínimo, interrompeu a trajetória de baixa. O mercado está sentindo de forma bem clara que a guerra é um caminho sem volta”, afirmou Miriam.

Fiesp critica Copom, mas prevê queda em fevereiro

São Paulo (AE) – A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) divulgou nota, ontem, em que critica o aumento dos juros básicos pelo Banco Central (BC). Mas contemporiza ao prever uma “queda significativa” dos juros já em fevereiro e ao informar que quer acreditar que a elevação esteja no “contexto de construção da credibilidade de um governo que se inicia”.

“Mas os juros não podem ser mantidos em patamar tão alto por muito tempo. O papel de amainar as expectativas de inflação futura e tornar mais críveis as metas ajustadas de inflação deve ser cumprido rapidamente”, afirma o presidente da entidade, Horácio Lafer Piva, que assina o texto.

A Fiesp dá a receita: complementar o arrocho de política monetária com aumento do superávit primário em 2003 seria a forma mais eficaz de se criar condições para queda significativa dos juros em futuro próximo.

“A decisão conservadora do Copom dá continuidade ao ciclo de aperto monetário iniciado no ano passado, combate mais duramente a inflação logo nestes primeiros meses e acelera a convergência dos índices correntes para as metas ajustadas”, finaliza Piva.

Ranking

A elevação da Selic em 0,5 ponto percentual, de 25% para 25,5% ao ano, consolida o Brasil em terceiro lugar no ranking de países com a maior taxa de juros reais do mundo, com 5,84% ao ano. No levantamento, preparado pela consultoria Global Invest, o país só fica atrás da Turquia (12,5% ao ano) e Polônia (9% ao ano). De acordo com o sócio da Global Invest, Fernando Pinto, o Brasil atingiria uma taxa de juros reais de 12,24% em dezembro caso o BC não tivesse aumentado os juros ontem. Com a decisão, a taxa poderá chegar a 12,87%.

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