A deflação registrada no mês de junho não foi suficiente para o Banco Central se convencer de que os preços estão sob controle. Como já era esperado pelos analistas de mercado, o Copom (Comitê de Política Monetária, do BC) decidiu na reunião concluída ontem -manter a taxa básica de juros da economia, a Selic, em 19,75% ao ano. É a segunda manutenção consecutiva, após nove meses de elevação da taxa.

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O comitê trabalha para assegurar a convergência da inflação para a meta fixada pelo governo, que é um IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de 5,1%.

Essa convergência já está em andamento. Em junho, o IPCA registrou uma deflação de 0,02%, contra uma inflação de 0,49% no mês anterior. Além disso, os analistas reduziram a expectativa de inflação para 5,67%. Antes da reunião do mês passado, estava em 6,21%.

Tendo assegurado essa trajetória, a expectativa é que o BC comece a reduzir os juros, o que está previsto para ocorrer no próximo mês ou em setembro. Na ata da reunião do mês passado, o comitê disse que manteria a Selic neste patamar ?por um período suficientemente longo de tempo?.

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O IPCA é o indicador usado pelo governo para as metas de inflação, que neste ano é de 4,5%, com uma margem de tolerância de 2,5 pontos percentuais para cima ou para baixo. Isso significa que a inflação no período de 12 meses está acima, inclusive, do teto das metas de inflação, que é de 7%. Embora a meta seja de 4,5%, o BC anunciou em setembro do ano passado que irá perseguir uma inflação de 5,1%.

Arrefecimento

Com o menor ritmo de crescimento da economia, ficou difícil para o BC justificar essa política de manter os juros em um patamar elevado. Mesmo com a manutenção da Selic, a autoridade monetária ainda sofrerá críticas por ser considerada a responsável pelo desaquecimento da economia.

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Na semana passada, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) reduziu a previsão de crescimento da economia brasileira em 2005 de 4% para 3,2%. A justificativa dada pela entidade foi a taxa de juros elevada.

No cenário externo, não há elementos que apontem para um desaquecimento global ou que ameacem a expansão dos EUA e da China. Além disso, há fluxo de capitais para os países emergentes, como o Brasil.

No ano passado, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro teve um crescimento de 4,9%, o maior desde 1994. No entanto, o crescimento no primeiro trimestre deste ano foi de apenas 0,3% na comparação com o trimestre anterior. Já a produção industrial, que no ano passado cresceu 8,3%, ficou estável em abril na comparação com março.

A justificativa para a reunião de ontem será conhecida no dia 28, quando será divulgada a ata da reunião.

Crítica

O empresário Paulo Skaf, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), disse que já passou da hora do Brasil deixar de ser o campeão mundial de juros altos ? tanto nominais, quanto reais. ?Cada vez mais, o Banco Central mostra o quanto é conservador. Manter a taxa no nível atual afugenta novos investimentos e coloca o Brasil numa situação de risco desnecessária, já que todos os índices de inflação, tanto no atacado como no varejo, apresentaram significativas quedas?, alertou Skaf.