A queda do Índice de Confiança de Serviços (ICS) em maio foi tão intensa que apenas motivações econômicas não explicam o resultado. Segundo o economista Silvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) e coordenador da sondagem, há sinais de que o ambiente político e até a proximidade da Copa do Mundo estão afetando mais fortemente a confiança dos empresários, a exemplo do que ocorreu em julho de 2013.
“Precisaríamos ter um quadro econômico muito negativo para ser a única justificativa. Mas há também influência das expectativas, muitas incertezas”, disse. Em maio, o ICS caiu 5,7%, o segundo recuo mais intenso de toda a série (iniciada em junho de 2008), perdendo apenas para dezembro de 2008 (-13,8%).
O clima de incerteza fica claro quando analisado o quesito que lista os fatores limitativos à expansão dos negócios. Diante de alternativas como custo de mão de obra e demanda insuficiente, 16% dos empresários assinalaram também a resposta “outros”. No detalhamento da escolha, 19% listaram preocupação com a Copa do Mundo em maio (de 16% em abril e 7% em março).
“Durante a Copa do Mundo, haverá feriados, e isso pode prejudicar a atividade”, disse Sales. Os números são aproximados porque, para mais agilidade, a FGV analisou o detalhamento das respostas apenas de médias e grandes empresas.
O clima econômico ainda é a maior limitação, com 46% das respostas dentro de “outros”, enquanto o clima político figurou em 10% das justificativas em maio. “Ninguém sabe com que políticas o novo governo virá. Além disso, temos um quadro econômico desfavorável. Como isso vai ficar diante do calendário eleitoral?”, acrescentou o economista. Também aparecem na lista de preocupações dos empresários o acesso ao crédito, a inadimplência, a infraestrutura e os fatores climáticos. “Nossa leitura é que o momento de incerteza serviu para acentuar a queda (da confiança) em maio”, sentenciou Sales.
Apesar da semelhança com julho de 2013, quando as manifestações populares derrubaram a confiança de empresários e dos consumidores, Sales não acredita que a rápida retomada observada no mês seguinte servirá de exemplo para o momento atual. “É difícil imaginar que haja recuperação como houve em agosto. É como se (o índice) estivesse caminhando para um patamar muito mais baixo, ficando depois estável”, disse.