A estabilidade no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho está diretamente relacionada à realização da Copa do Mundo, segundo explicou a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. Ela mostrou uma série histórica que comprova que, desde o Plano Real, em anos de Copa do Mundo a inflação cai nos meses de realização do evento ou naqueles que imediatamente o antecedem.
“Em período de Copa, os brasileiros, que são muito apaixonados por futebol, deslocam o consumo para produtos que têm relação com a Copa, como camisas temáticas e vuvuzelas. Parte do orçamento e das atenções se voltam para esses produtos, reduzindo a demanda por outros, como alimentos e automóveis, o que leva a promoções no comércio e a quedas de preços”, disse ela. Eulina lembra também que, por causa da Copa, houve vários “feriados” não programados em junho, o que também ajudou a conter a demanda e os preços.
A série apresentada por Eulina mostra que, em 1998, a inflação de junho, de 0,02%, foi a menor taxa mensal para o primeiro semestre, refletindo a realização da Copa. Já em 2002, quando a Copa foi realizada mais cedo, a partir de 31 de maio, a menor taxa do primeiro semestre foi registrada em maio (0,21%). Em 2006, quando o evento voltou a ocorrer a partir de junho, houve deflação de 0,21% e, em 2010, o fenômeno se repetiu, com variação zero no mês.
Eulina disse ainda que as pressões já conhecidas para o IPCA de julho são o reajuste de 1,03% concedido pela Eletropaulo a partir do dia 4 deste mês e a alta de 2,13% nas passagens de ônibus interestaduais, a partir do primeiro dia de julho. Para ajudar a conter a alta da taxa, porém, haverá contribuição da queda de 8,10% nas tarifas de ônibus urbanos em Belém, por decisão judicial. No que diz respeito aos efeitos da Copa do Mundo, que deram contribuição importantes para a desaceleração da inflação em junho, Eulina explicou que não é possível adiantar se eles prosseguirão em julho, já que o Brasil deixou a competição no início deste mês.
Indexação
A coordenadora de índices de preços do IBGE sublinhou a contribuição que a “indexação” deu para a alta acumulada de 3,09% no IPCA no primeiro semestre. “Vários itens ainda são indexados e deram forte contribuição à inflação, como planos de saúde, remédios, aluguel, energia elétrica, colégios, empregados domésticos e ônibus urbanos”, disse. As principais contribuições dadas para a inflação do primeiro semestre ficaram com colégios (6,29%), ônibus urbano (7,15%), empregado doméstico (7,17%), refeição (4,33%), leite pasteurizado (18,95%), feijão carioca (81,78%), plano de saúde (3,22%), remédios (3,55%) e aluguel residencial (3,13%).
Eulina destacou também que, apesar da desaceleração ocorrida no último mês do semestre, os alimentos deram contribuição decisiva para a alta no IPCA acumulado nos seis primeiros meses do ano. Esse grupo de produtos registrou alta de 4,52% no primeiro semestre do ano, bem acima da variação de 2,64% acumulada em igual período do ano passado. Os principais produtos responsáveis pela alta acumulada dos alimentos no ano foram a batata inglesa (19,42%), leite pasteurizado (18,95%), farinha de mandioca (21,90%) e açúcar refinado (10,13%).