Depois de se recusar ontem a informar quem acessou o Imposto de Renda (IR) do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, o secretário da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, proibiu um dos coordenadores do órgão, responsável pela área de análise e previsão, a fazer uma avaliação econômica sobre os dados da arrecadação federal em junho, que apontam para uma desaceleração do ritmo de crescimento verificado nos meses anteriores.
A entrevista da Receita para explicar o resultado da arrecadação em junho terminou em bate-boca e em clima de saia-justa, depois que o coordenador-geral de Estudos, Previsão e Análise, Victor Lampert, alegou que não poderia dar explicações econômicas e fazer previsões para os dados por determinação do secretário Otacílio Cartaxo.
“O secretário (Cartaxo) me orientou a não fazer isso”, disse. Por várias vezes, o coordenador ameaçou abandonar a entrevista. Segundo ele, Cartaxo deu a “pauta” do que ele poderia falar. “Não podem querer aqui que eu faça uma relação entre o comportamento da economia e a arrecadação”, disse ele, que começou a entrevista justamente comentando a “aderência da arrecadação” ao desempenho da economia.
No entanto, questionado se a arrecadação em ritmo menor indicaria um nível de atividade menos intenso, como apontam economistas do próprio Ministério da Fazenda, Lampert respondeu que não, mas se recusou a avançar na análise. Disse apenas que a pausa no ritmo de crescimento da economia ocorreu em junho e os dados da arrecadação do mês refletem fatos geradores de maio. “A arrecadação ainda não está refletindo os dados de junho”, disse.
Confrontado com o fato de que seu cargo é responsável exatamente por analisar e prever a evolução das receitas, Lampert chegou a encerrar a entrevista prematuramente, levantando-se da cadeira e quase deixando o recinto, não fosse a intervenção da assessoria de imprensa do órgão. A ameaça se repetiu outras duas vezes. O coordenador ainda se recusou a detalhar dados sobre Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e receitas com depósitos judiciais. Ele também não quis gravar com os jornalistas de rádio e televisão, prática que existe há anos. E não permitiu que seu assessor fizesse os comentários para esses veículos. Ele alegou “não ter condições” de fazer a gravação.