A Cooperativa Agrária Mista de Entre Rios, nas proximidades de Guarapuava, conseguiu contornar uma crise financeira que, há seis anos, fez com que estivesse quase que ?quebrada?. Começou uma renegociação dos juros e para alongamento das dívidas e chegou ao ano passado com um faturamento de R$ 758 milhões. Todo o trabalho desenvolvido lhe valeu, não apenas a ?volta por cima?, como também o prêmio Gestão Profissional, concedido pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) em conjunto com a revista Globo Rural.
E como uma coisa puxa a outra, a cooperativa acabou ganhando também outro prêmio, o de Responsabilidade Social, porque todo mundo ?vestiu a camisa? e passou a trabalhar em conjunto com a sociedade local.
A Agrária foi uma das cooperativas visitadas, anteontem, pelo grupo de líderes cooperativistas de todo o Brasil que estão percorrendo as unidades que receberam o prêmio. Situada numa região privilegiada, congrega cinco colônias que, juntas, somam cerca de 12 mil habitantes que dependem quase que diretamente da cooperativa. O malte é o foco principal, detendo cerca de 15% de toda a produção nacional das 900 mil toneladas do produto consumidas anualmente pelo Brasil, – 130 mil são produzidas na cooperativa de Entre Rios.
?Intensificamos nosso alvo na atividade da agroindústria e produção de grãos pelos cooperados?, afirma o presidente da Agrária, Jorge Karl. A fórmula vem mostrando resultados. ?Desde 2002, a cooperativa já consegue fazer investimentos, inicialmente destinados à manutenção da capacidade produtora e, num segundo momento, para o desenvolvimento de atividades que hoje compõem uma fábrica de ração, moinho de trigo e uma indústria de pré-misturas para panificação?, relata o presidente. Esta, aliás, é fruto de uma parceria entre a Cooperativa Agrária e a alemã Ireks, dando origem à Ireks do Brasil, com 60% de seu capital proveniente da Alemanha e um investimento totalizado em 3,5 milhões de euros.
O cooperado da Agrária tem resultado indireto de R$ 300 por hectare ao ano, totalizando R$ 32 milhões em distribuição. As ações sociais também são foco de investimento: somente em 2003, foram investidos R$ 2 milhões em projetos de educação, cultura, saúde, assistência social e ambiental, entre outros. Atualmente, a cooperativa trabalha com faturamento na ordem dos R$ 758 milhões (dados de 2004).
Coamo
A Coamo, na região Centro-Oeste do Estado, maior cooperativa agropecuária da América do Sul e uma das 30 maiores empresas exportadoras do Brasil, também foi visitada pelo grupo de cooperativistas. A Coamo detém 24% das exportações entre todas as cooperativas do País e 50% entre as do Paraná, tendo sido esta vertente responsável por um faturamento de quase US$ 500 milhões somente no ano passado.
Uma das visitas foi à fazenda experimental, que angaria cerca de 170 projetos anualmente, testando tecnologias e insumos antes de apresentá-los ao produtor, e ao complexo industrial, com atividades como extração e refino de óleo de soja e fabricação de margarina, entre outros produtos.
O programa de formação de líderes cooperativistas a levou a ganhar o prêmio na categoria Educação Cooperativista. ?Formamos turmas que estudam em módulos a filosofia do cooperativismo, a visão estratégica do cooperado na modernidade, planejamento estratégico e conhecem por dentro a Coamo, em suas superintendências administrativa, técnica e comercial, além de estratégias de negócios para a cooperativa?, explica o presidente José Aroldo Gallassini.
O programa funciona há oito anos e já formou 350 profissionais, dos quais a metade ocupa coordenações dos comitês educativos de suas unidades – a cooperativa possui 25 delas, ao todo.
Parcerias e investimentos para vencer crises
Há seis anos, a Coamo mantém uma parceria de produção com a Cocamar, cooperativa de Maringá. De acordo com Gallassini, a cooperativa maringaense possuía capacidade de produção ociosa e os problemas econômicos necessitavam de alternativas conjuntas. ?Hoje há bom volume de industrialização de soja cerca de 250 mil toneladas por ano – e refino de óleo, produzindo média de cem mil caixas, e todo nosso café industrializado é produzido na Cocamar. A cooperativa recebe boa quantidade de sementes de soja da Coamo para sua produção?, enumera. Segundo o presidente da Coamo, uma iniciativa de parceria de tal porte entre duas cooperativas ?é talvez inédita no País e se constitui em algo que deveria ser mais desenvolvido quando há capacidade de produção ociosa em algum setor?.
Seca
De acordo com Gallassini, este ano os rendimentos da co-operativa devem cair de R$ 4 bilhões para cerca de R$ 3,2 bilhões devido à seca que ocasionou perdas na safra de soja. ?Mas ela não veio desacompanhada. Já havíamos enfrentado seca no ano passado e tivemos perdas tanto no preço como na comercialização do trigo safrinha, principalmente?, recorda.
O agravamento ainda ficou por conta da queda do preço da soja na Bolsa de Chicago (EUA), passando de US$ 10,60 o bushel para US$ 5,10. ?Além disso, ainda temos a desvalorização do dólar. Implementamos a lavoura com o dólar na média de R$ 3,10 e agora estamos vendendo com o valor médio de R$ 2,70?, acrescenta o presidente.
Ainda assim, os investimentos continuam. ?Restam ainda R$ 50 milhões dentro de nosso programa de aplicações para os anos de 2004, 2005 e 2006. Estamos fazendo os últimos investimentos em três entrepostos no Mato Grosso do Sul e prevemos para o ano que vem a construção de um armazém de grãos e farelos com capacidade para 72 mil toneladas no Porto de Paranaguá?, conclui.