Sonhos de creme e doce de leite substituem os sonhos que o casal Marines e Amílton Teixeira, da cidade de Medianeira, cultivavam, há quase seis anos, de abrir o próprio negócio e trabalhar sem patrão. No passado, eles olhavam para um terreno vago de sua propriedade e apenas imaginavam o que poderia ser construído ali. Hoje, mantêm no local a panificadora e confeitaria Sabor do Pão, montada com crédito obtido em cooperativa e cuja fabricação de doces e pães garante o sustento de toda a família.
?Eu era auxiliar jurídica e meu marido era vendedor. Sempre quisemos montar uma empresa. Porém, sabíamos que para começar a operar teríamos que conseguir um financiamento. Os juros praticados pelos bancos eram altos e tínhamos medo de não conseguir quitar nossos empréstimos. Foi quando conhecemos o cooperativismo de crédito. Nos associamos a uma cooperativa, obtivemos capital de giro, estruturamos a panificadora e começamos a colocar nossas idéias em prática. Tudo tem dado certo?, afirma Marines.
Assim como o casal, outros milhares de paranaenses têm encontrado no cooperativismo de crédito uma forma de prosperar, seja na vida profissional ou pessoal. O que antigamente era motivo de desconfiança vem ganhando cada vez mais adeptos e se caracterizando como uma atividade que tem o desenvolvimento econômico e a responsabilidade social como fatores intrínsecos. Atualmente, no Paraná, existem 65 cooperativas de crédito, que possuem 269.659 associados. Nos últimos dois anos, segundo dados do Sistema Ocepar Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado do Paraná, elas realizaram operações que totalizam R$ 4 bilhões.
?O motivo pelo qual o cooperativismo de crédito vem crescendo é simples. As cooperativas, embora busquem a expansão, operam sem objetivo de lucro e procuram manter uma relação harmônica com seus associados. Oferecem os mesmos serviços que as instituições financeiras tradicionais, mas com tarifas e taxas de juros bem inferiores às do mercado. No que diz respeito ao custo geral, ser sócio de uma cooperativa chega a ser 30% mais barato do que ser correntista de um banco?, comenta o presidente do Sistema de Crédito Cooperativo do Paraná (Sicredi-PR), Manfred Dasenbrock.
A economia é confirmada pelo médico ortopedista Mauro Fuchs, de Curitiba, que há sete anos é associado de uma cooperativa de crédito segmentada (voltada a um público específico). Embora mantenha contas em instituições financeiras tradicionais, ele não hesita em dar preferência ao cooperativismo quando necessita de um serviço. ?Os bancos, sem exceção, têm taxas mais altas que a cooperativa da qual participo. Avalio minha vida monetária antes e depois do cooperativismo. Percebo que hoje ela está bem melhor.?
Além de não buscarem a rentabilização de ações e terem como princípio ser boas para a comunidade ou para determinados segmentos, as cooperativas de crédito podem cobrar valores menores porque, ao contrário dos bancos comerciais, seus depósitos à vista não estão sujeitos ao depósito compulsório no Banco Central. Por serem menores, as instituições também têm custos operacionais inferiores, o que se reflete nos repasses realizados.
Proximidade com atendentes transforma clientes em amigos
O que é lixo para a maioria das pessoas se transforma em matéria-prima nas mãos do empresário Francisco Justo Júnior, de Cascavel. Dono de uma recuperadora de plásticos, ele vem contando com o apoio do cooperativismo de crédito há três anos e destaca a qualidade do tratamento recebido nas cooperativas.
?O atendimento é excepcional. Os funcionários são mais acessíveis e abertos a negociações?, revela. ?Minha empresa é pequena, mas nem por isso deixa de gerar despesas. Recentemente, o cooperativismo me ajudou no pagamento de funcionários e impostos. O crédito que obtive evitou que eu tivesse que fechar as portas.?
Também da região oeste do Estado, a proprietária de uma loja de ferragens Josi Mari Marcon é associada a uma cooperativa de crédito há três anos e meio. Ela valoriza a maior facilidade para aprovação de financiamentos no local. ?Obtive um crédito rotativo, que me permite manter produtos em estoque e dar um prazo de pagamento maior a meus clientes. Tem me ajudado tanto que já penso até em ampliar meu negócio, passando a atuar também como distribuidora?, declara. (CV)
Setor surgiu na Revolução Industrial
O cooperativismo vem se consolidando cada vez mais como algo que funciona em razão da união e do auxílio entre as pessoas. A tendência de viver em grupos para defender interesses comuns é percebida desde a antigüidade. Porém, a atividade cooperativista nasceu de fato na primeira fase da Revolução Industrial, quando tecelões do bairro de Rochdale, em Manchester, na Inglaterra, se reuniram e formaram um grupo com característica de cooperativa.
No Brasil, as primeiras cooperativas começaram a surgir por volta de 1847. Definidas por uma nova forma de pensar o homem e as relações de trabalho, elas evoluíram e se multiplicaram. Hoje, em todo o País, envolvem setores como agricultura, saúde, educação, transporte, turismo, entre outros. São regulamentadas pela Lei 5.764/71 e não são sujeitas a falência.
Crédito
A primeira cooperativa de crédito brasileira foi instituída em 1902, na localidade de Linha Imperial, em Nova Petrópolis, no Rio Grande do Sul, pelo padre suíço Theodor Amstad. Até a década de sessenta, várias foram formadas. Entretanto, com o vigor do regime militar, todas acabaram sendo extintas, ressurgindo apenas na década de oitenta. No Paraná, a primeira cooperativa de crédito rural é datada de 1983. Em 1996, também no Rio Grande do Sul, surgiu o primeiro banco cooperativo de crédito do País. (CV)
