Controlar pragas e insetos através de produtos naturais e derivados, reduzindo os impactos gerados pelos pesticidas e agrotóxicos ao meio ambiente. Este é o foco de um trabalho que está sendo desenvolvido pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INTC) de Controle Biorracional de Insetos Pragas, em parceria com oito unidades de pesquisa de cinco estados, entre elas a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
“O uso de inseticidas em lavouras traz uma série de efeitos colaterais indesejáveis, como contaminação dos rios, do lençol freático e da alimentação humana. Além disso, os produtos não matam apenas a praga que está causando o problema, exterminando outras espécies e gerando desequilíbrios”, comenta o professor de química da UFPR e integrante do Instituto, Francisco de Assis Marques.
O controle biorracional de pragas, conforme é estudado pelo INTC, envolve a utilização de diversas metodologias que minimizem os impactos ambientais. Segundo Francisco, um destes métodos é usar inimigos naturais para exterminar as pragas, implantando-os nas lavouras.
Outro é aproveitar substâncias produzidas pelas próprias plantas para se defender. “A vantagem que estas substâncias têm sobre os inseticidas é que elas são totalmente naturais e biodegradáveis”.
Porém, um dos métodos mais curiosos diz respeito à utilização de infoquímicos, que são substâncias usadas pelos próprios animais, entre eles os insetos, para se comunicar.
“Os mensageiros químicos que podem ser utilizados são os feromônios, que estabelecem comunicação entre indivíduos da mesma espécie, e os aleloquímicos, que estabelecem comunicação entre espécies diferentes”, informa Francisco.
A função dos feromônios e aleloquímicos seria interferir na comunicação de determinadas pragas. Pelas experiências que estão sendo realizadas, podem ser instaladas nas lavouras armadilhas contendo mensageiros químicos com o intuito de atrair os insetos. Ao chegar até as armadilhas, os animais encontram pesticidas que irão eliminá-los.
“A vantagem dos infoquímicos é que os pesticidas deixam de ser espalhados pela lavoura, gerando contaminação. Além disso, a armadilha tem como alvo uma única espécie, não matando indivíduos de outras”, explica o professor. “No trabalho que desenvolvemos em parceria com o INTC, também realizamos interação entre várias metodologias. A pressão por soluções ecologicamente corretas na agricultura existe em todo mundo e o Brasil, que tem um setor agrícola bastante forte, não pode ficar de fora”.
Um dos problemas relativos ao controle biológico aplicado de pragas é a descrença dos produtores rurais. Segundo Francisco, por questões culturais, eles tendem a não acreditar que as metodologias funcionem e querem alternativas rápidas.
“Os produtores estão acostumados a usar produtos que façam as pragas morrerem em sua frente. Por isso, a adoção de métodos de controle biológico envolve mudança de mentalidade quanto à forma de encarar os problemas. É preciso provar aos produtores que o controle biológico funciona para que eles passem a utilizar”.
Quanto aos custos dos métodos de controle sem impactos ambientais, o professor diz que, a longo prazo, eles certamente geram economia aos responsáveis pelas lavouras.
“Os custos variam de caso para caso. Inicialmente, os produtores podem até ter um custo mais alto. Porém, a longo prazo, os benefícios são muito maiores. Um deles é não ter que arcar com custos ecológicos”.
Embrapa trabalha com o controle biológico
Em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) Florestas realiza trabalhos envolvendo o cont,role biológico da vespa da madeira (Sirex noctilio), principal praga do pinus; e do besouro corintiano ou broca-da-erva-mate (Hedypathes betulinus), que atinge as plantações de erva-mate.
Vespa
A fêmea da vespa da madeira coloca ovos no tronco do pinus, também depositando no local um fungo e uma mucossecreção. Estes são tóxicos à planta, deixando-a bastante debilitada em poucos meses e geralmente matando-a no período de um ano.
“Para combater a vespa, utilizamos um nematóide (pequeno verme) específico, que tem dois ciclos de vida. Em um dos ciclos, ele se alimenta do fungo que a vespa deposita na madeira. No outro, penetra dentro da vespa e a esteriliza, impedindo que ela se reproduza”, explica a pesquisadora da Embrapa Florestas, Susete do Rocio Chiarello Penteado.
A fêmea, mesmo esterilizada, faz postura em outras árvores e leva o nematóide com ela, multiplicando-o de forma natural. Entretanto, o verme também pode ser reproduzido em laboratório.
“O trabalho com o nematóide acontece há 21 anos e é a única forma de controle da vespa da madeira. O método é utilizado no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas Gerais”.
Erva
Já a broca-da-erva-mate é uma praga nativa. A fêmea faz postura no tronco da erva-mate e suas larvas fazem galerias no mesmo, dificultando a circulação da seiva, o que enfraquece a planta. O controle biológico consiste na utilização de um fungo que dá origem a um produto a ser aplicado na parte de baixo do tronco.
“O fungo ataca indivíduos adultos da broca e os mata em um período de mais ou menos vinte dias. O produto que se origina dele tem registro temporário no Ministério da Agricultura. A expectativa é de que o registro definitivo seja concedido até o final do ano, o que irá permitir a comercialização”, informa Susete.
Fora do Paraná, alguns estudos também são realizados para aplicação do controle biológico de formigas cortadeiras, consideradas pragas de diversos tipos de plantas.
Porém, de acordo com o agrônomo da UEL (Universidade Estadual de Londrina), Amarildo Pasini, os métodos utilizados não se mostram tão eficientes. Isto porque as formigas cortadeiras participam de uma grande sociedade organizada e pertencem a uma ordem de insetos mais evoluída, que é a Hymenoptera (a mesma das abelhas). (CV)