A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) leiloou recentemente 20 mil contratos de opção para produtores de café e cooperativas. Esses contratos funcionam como uma espécie de seguro para que o produtor não sofra com eventuais crises.
A operação foi dividida em três lotes. O Estado de São Paulo negociou 16.307 contratos; Minas Gerais, 2.627; o Paraná adquiriu 972; Goiás, 90; e Mato Grosso do Sul, um contrato.
Os contratos dão certo fôlego aos produtores paranaenses, no entanto, nem mesmo essa opção pode ser suficiente para tranquilizá-los. O setor cafeeiro enfrenta previsão de redução significativa na produtividade este ano, acrescida, ainda, da instabilidade climática, que vem prejudicando a qualidade dos grãos, e dos baixos preços pagos pelo produto no mercado.
O superintendente da Conab no Paraná, Lafaete Jacomel, explica que, quem adquiriu os contratos, vai ter a garantia de venda para a Conab por um preço previamente estipulado.
Hoje, o valor da saca de 60 quilos é de R$ 303,50. “Caso o mercado apresente um valor superior ao estipulado, o produtor pode vender seu produto para qualquer um que esteja interessado. Porém, se a saca estiver com um valor abaixo do mercado, ele vende para a Conab e evita o prejuízo”, explica.
Cada contrato foi negociado entre R$ 154,51 e R$ 157,21 e vencem entre 15 de janeiro e 15 de março de 2010. Se os cafeicultores optarem em negociar sua colheita com a Conab, a companhia espera investir R$ 622,59 milhões. Com a operação, os agricultores garantem a venda ao governo de dois milhões de sacas de café arábica, ou 120 mil toneladas do produto.
O superintendente da Conab informa que cada produtor pode ter no máximo quatro contratos, cada um deles de seis toneladas, e que há anos esses leilões não eram realizados.
“A Conab não realizava leilões de contratos de opção para o mercado de café desde 2002. Só este ano foram realizados dois leilões, com 40 mil contratos. Tudo o que foi ofertado foi comercializado. Caso o preço fique abaixo do esperado, cada contrato deve render R$ 30,9 mil. Se o cafeicultor protelar um pouco mais a entrega do produto, pode gerar um acréscimo nessa conta”, revela.
Para Jacomel, quem garantiu os contratos de opção fez um bom negócio. “A Conab garante a compra desse café, pois quando o leilão sai, o recurso para a aquisição já está garantido junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)”, assegura.
Qualidade e quantidade prejudicadas na safra atual
Mesmo ocupando uma posição de destaque no cenário nacional, o setor cafeeiro do Paraná, especialmente nas regiões do norte pioneiro e do norte central, está receoso este ano.
O Estado é o 4.º maior produtor do País – atrás apenas de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo -, mas nem assim as estimativas para 2009 são otimistas. Fora o fator da sazonalidade, outros problemas têm preocupado o setor.
De acordo com o técnico do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) Paulo Franzini, a produção estimada para este ano deverá ser bem menor que a de 2008.
“No ano passado, o Paraná colheu 2,64 milhões de sacas. Para 2009, acreditamos que este número não será superior a 1,6 milhão, o que representa uma queda de 41%”, informa. Além disso, Franzini conta que houve uma perda na área plantada, o que contribuiu para a redução da produção.
“Em 2008, tínhamos 105 mil hectares, dos quais 96,8 mil eram o espaço de produção. Hoje, a área total caiu para 98 mil e a parte produtiva ficou em 85 mil hectares. Isso corresponde a 12% a menos de área plantada”, comenta. Outros fatores que têm prejudicado seriamente a cafeicultura são o clima e o preço.
O t&eac,ute;cnico do Deral afirma que as chuvas estão dificultando a colheita e reduzindo a qualidade do produto. “Com isso, o café fica muito tempo na planta ou simplesmente cai. Com o atraso, ele vai passando do ponto e amargando. No caso do fruto que cai, a situação é ainda pior, pois fica sujeito a fungos”, explica.
Em relação aos preços, Franzini afirma que a situação está próxima de o produtor ter que pagar para trabalhar. “Nos últimos cinco anos, o café vem subindo muito pouco, ao passo que a mão de obra e o fertilizante estão ficando cada vez mais caros, subindo, respectivamente, 40% e 17%. Hoje, uma saca de café tipo seis, bebida dura, pode custar R$ 230, o que acredito ser muito baixo. O ideal seria que a saca custasse, pelo menos, R$ 300”, avalia.
Mesmo os produtores que adquiriram os contratos de opção podem ter problemas na hora de entregar o produto, acredita Franzini. “Por conta de tudo isso, pode ser que eles não consigam entregar o produto especificado na hora da compra do contrato”, lamenta. (FL)
De olho no consumidor
Avenida do Café, no Mercado Municipal de Curitiba, evidencia desde o processo produtivo ao consumo final. |
Uma das estratégias do produtor para valorizar o café é aproximar-se do consumidor. Por isso, funciona desde quinta-feira até hoje, ao lado do Mercado Municipal de Curitiba, a Avenida do Café, montada pela prefeitura.
O objetivo é promover o contato entre quem produz e quem aprecia o produto de maneira lúdica, apresentando toda a cadeia produtiva do grão. Em vários estandes os visitantes poderão realizar degustações e saber mais sobre os diversos tipos de café, as melhores formas de preparo e as várias marcas produzidas no Paraná.
“O café produzido no Paraná não deixa nada a desejar ao café produzido no resto do País. O produto está presente pelo menos três vezes ao dia na dieta dos cidadãos. O consumo per capita no Brasil é de quatro quilos por ano, sendo que o Paraná está dentro da média nacional”, diz o diretor de abastecimento da Secretaria Municipal de Abastecimento de Curitiba, Luiz Gusi.
Em paralelo à Avenida do Café, dentro do Mercado Municipal, está acontecendo a etapa paranaense do 9.º Campeonato de Baristas 2009, organizado pela Associação Brasileira de Bares e Baristas (pessoas especializadas em preparar café).
Além disso, estão sendo oferecidos cursos sobre preparo especial de café e arte latte (técnica de desenhar na espuma do leite). Atualmente, de acordo com Gusi, o Paraná conta com 103 mil hectares de plantações de café, 13 mil cafeicultores e 112 indústrias que trabalham na torrefação, moagem e beneficiamento do café. No total, 21,6 milhões de sacas do alimento são produzidas por safra. (Cintia Végas)