O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou nesta segunda-feira, 23, que o “Banco Central usa o câmbio” para segurar a inflação no curto prazo. “É um erro mortal, mas é o único (recurso) disponível no momento”, destacou. Ele estima que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deverá fechar este ano pouco abaixo do teto de 6,5%.

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Em entrevista ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, Delfim afirmou que o próximo governo pode adotar algumas medidas essenciais para reduzir as pressões sobre o IPCA a partir do início de 2015.

Segundo ele, a correção dos preços administrados deveria ocorrer de uma só vez no próximo ano. “Isso é fundamental para retomar a ancoragem das expectativas sobre a inflação, ajudando a convergi-las à meta de 4,5%”, disse. “As expectativas vão continuar eternamente elevadas se há a percepção generalizada da sociedade de que preços administrados são responsáveis por 1,5 ponto porcentual do IPCA e isso não é corrigido nunca”, ponderou.

Nesse contexto, o ex-ministro defendeu que o governo anuncie a regra de retificação da defasagem dos combustíveis no Brasil em relação às cotações internacionais.

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“A sociedade deveria estar ciente de que esta correção vai ocorrer num horizonte de 18 meses”, destacou Delfim. “Contudo, é fundamental deixar claro que não há uma data exata de quando isso vai ocorrer, ela será aleatória dentro deste prazo e ponto final.”

PIB estagnado

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Delfim afirmou que vê o Produto Interno Bruto (PIB) estagnado no segundo trimestre, com resultado próximo de 0%. “A economia para 2014 está dada e deve ser relativamente fraca, com um crescimento ao redor de 1,5%”, comentou. Ele acredita que a inflação neste ano ficará pouco abaixo do teto de 6,5%.

Contudo, Delfim ressaltou que, devido às “imensas potencialidades” que o País possui é totalmente viável que a economia retome um ritmo de expansão entre 3% e 4% em três anos. “Para que isso ocorra é fundamental que o Estado se torne bem mais eficiente – nem mínimo nem balofo”, comentou.

“Nesse contexto, não dá mais para usar a política fiscal para estimular o consumo, como ocorreu nos últimos anos”, disse. “O superávit primário deveria subir para a média de 2,5% do PIB ao ano, a fim de reduzir o patamar da dívida bruta dos atuais 58% para 45% do PIB em seis anos. E por que 45%? Esse número é relevante porque, se houver alguma necessidade de elevar os gastos públicos para puxar a demanda, há essa folga essencial.”

Juros

Por outro lado, o ex-ministro da Fazenda ressaltou que o retorno da harmonia da política fiscal com a monetária, como havia em 2011, ajudará a reduzir os juros, o que é muito importante para estimular os investimentos e ampliar a oferta.

“Parece que há uma nova onda daqueles que acreditam que o Brasil não pode ter juro real abaixo de 6% ao ano. Isso é uma tolice e a taxa pode ser mais baixa, sim”, disse.

Mas Delfim destacou que a política monetária é uma espécie de força resultante do bom controle de gastos do governo, patamar do câmbio e ritmo de expansão dos salários compatível com a velocidade da produtividade do trabalho.

“Como a carga tributária está próxima a 36% do PIB, pode-se gerar muito mais eficiência no setor público. E com isso é possível perfeitamente levar o déficit nominal para perto de zero em quatro anos”, destacou.

Na avaliação do ex-ministro, um elemento essencial para estimular os investimentos no País é o governo intensificar o programa de concessões em infraestrutura, pois isso vai combater os gargalos nacionais de logística, especialmente em portos, rodovias e ferrovias.

“É preciso ter modicidade tarifária nos leilões, mas eles precisam ser feitos de forma que viabilize uma boa taxa de retorno dos projetos. E isso é coisa para profissionais e não para amadores de Brasília”, disse. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.