As contas externas brasileiras registraram em janeiro o maior déficit mensal já apurado pelo Banco Central: US$ 11,6 bilhões. O resultado surpreendeu até mesmo a autoridade monetária, que esperava um resultado negativo de no máximo US$ 11 bilhões no saldo das negociação de bens, serviços e doações do País com o exterior.

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A principal explicação para esse desempenho está nas multinacionais, que aceleraram a remessa de lucros e dividendos à matriz no exterior com medo de uma valorização ainda maior do dólar. “Uma desvalorização do câmbio torna a remessa mais cara. Se ele tem a expectativa que o câmbio pode depreciar, ele pode antecipar o envio dos lucros e dividendos”, disse o chefe do departamento econômico do Banco Central, Túlio Maciel.

Dessa forma, os dados do primeiro mês do ano vão na contramão da expectativa do governo de que a conta de transações correntes do Brasil com outras nações seja menos deficitária neste ano do que os US$ 81,4 bilhões de 2013. O rombo nas contas externas, juntamente com a preocupação com as contas públicas do País, são os dois indicadores mais sensíveis para a equipe econômica da presidente Dilma Rousseff neste ano.

Para o BC, o dado de janeiro, embora recorde e acima da expectativa, ainda não justifica uma elevação do valor projetado para todo o ano, que é US$ 78 bilhões. O Banco Central ainda confia na melhora da balança comercial neste ano, apesar da situação da economia da Argentina, um dos principais parceiros comerciais. Em 2013, as exportações superaram as importações em apenas US$ 2,56 bilhões, ante US$ 19,4 bilhões do ano anterior. Só em lucros e dividendos, o País remeteu ao exterior US$ 2,5 bilhões. Trata-se do maior volume para o mês desde 2008, quando as remessas ultrapassaram US$ 3 bilhões. Para o ano, o BC projeta gastos líquidos de US$ 27 bilhões com remessas de lucros e dividendos, apenas US$ 1 bilhão a mais que no ano passado.

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IED. Os investimentos estrangeiros diretos (IED), em produção, somaram US$ 5,1 bilhões e cobriram apenas 44% do rombo das transações correntes. O resultado, porém, foi maior do que a estimativa do BC (US$ 4 bilhões). Quase um terço do investimento veio de empréstimos entre companhias. No mês passado, uma única operação, com origem na Espanha, foi responsável pelo ingresso de US$ 2,5 bilhões, para o setor de serviços financeiros.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, em conferência com analistas estrangeiros, comemorou o resultado do IED e chegou a afirmar que, se a tendência continuar, o ingresso dos investimentos produtivos neste ano pode superar o de 2013. O BC e o mercado financeiro esperam ingressos mais modestos, de US$ 63 bilhões e US$ 58 bilhões, respectivamente, ante US$ 64 bilhões em 2013.

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Para os economistas do Itaú Unibanco, embora ainda seja a principal forma de financiamento do déficit em conta corrente, o fluxo de investimento direto deve arrefecer no próximo biênio, alcançando 2,2% do PIB em 2015 (ante 2,9% de 2013). O principal motivo é a moderação do ritmo da economia brasileira, especialmente no setor de serviços. Já o investimento estrangeiro em carteira ficou positivo em US$ 2,8 bilhões no mês passado, com destaque para a entrada de US$ 2,6 bilhões no mercado de renda fixa. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.